Extremos do clima

Relatório indica que todo o Brasil deverá ficar ao menos 3ºC mais quente até o fim do século; chuvas podem aumentar 30% no Sul-Sudeste e diminuir até 40% no Norte-Nordeste.

Por Marcos Pivetta

Os cientistas familiarizados com a obra do historiador inglês marxista Eric Hobsbawm, falecido no ano passado, bem que poderiam tomar emprestado o título de seu livro dedicado às transformações político-econômicas do século XX e empregá-lo para descrever o cenário climático previsto para o Brasil das próximas décadas. Se o assunto são as mudanças climáticas, a era dos extremos (nome do livro de Hobsbawm) apenas se iniciou e, segundo os pesquisadores, veio para ficar por um bom tempo. Em razão do aumento progressivo da concentração de gases de efeito estufa – em maio passado, os níveis de dióxido de carbono (C02) atingiram pela primeira vez na história recente da humanidade as 400 partes por milhão (ppm) – e de alterações na ocupação do uso do solo, o clima no Brasil do final do século XXI será provavelmente bem diferente do atual, a exemplo do que deverá ocorrer em outras partes do planeta.

As projeções indicam que a temperatura média em todas as grandes regiões do país, sem exceção, será de 3º a 6ºC mais elevada em 2100 do que no final do século XX, a depender do padrão futuro de emissões de gases de efeito estufa. As chuvas devem apresentar um quadro mais complexo. Em biomas como a Amazônia e a caatinga, a quantidade estimada de chuvas poderá ser 40% menor. Nos pampas, há uma tendência de que ocorra o inverso, com um aumento de cerca de um terço nos índices gerais de pluviosidade ao longo deste século. Nas demais áreas do Brasil, os modelos climáticos também indicam cenários com modificações preocupantes, mas o grau de confiabilidade dessas projeções é menor. Ainda assim, há indícios de que poderá chover significativamente mais nas porções de mata atlântica do Sul e do Sudeste e menos na do Nordeste, no cerrado, na caatinga e no pantanal. “Com exceção da costa central e sul do Chile, onde há um esfriamento observado nas últimas décadas, estamos medindo e também projetamos para o futuro um aumento de temperatura em todas as demais áreas da América do Sul”, diz José Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que trabalha com projeções futuras a partir de modelos regionais do clima. “A sensação é de que as estações estão meio ‘loucas’, com manifestações mais frequentes de extremos climáticos.”

A expressão significa que os brasileiros vão conviver tanto com mais períodos de seca prolongada como de chuva forte, às vezes um após o outro. Isso sem falar na possibilidade de aparecimento de fenômenos com grande potencial de destruição que antes eram muito raros no país, como o furacão Catarina, que atingiu a costa de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul em março de 2004. Nas grandes áreas metropolitanas, e mesmo em cidades de médio porte, o avanço do concreto e do asfalto intensifica o efeito ilha urbana de calor, tornando-as mais quentes e alterando seu regime de chuvas.

Esse quadro faz parte do mais completo diagnóstico já produzido sobre as principais tendências do clima futuro no país: o primeiro relatório de avaliação nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), criado em 2009 pelos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Entre 9 e 13 de setembro, o relatório será divulgado durante a 1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais, organizada pela FAPESP. Concebido nos moldes do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) das Nações Unidas, que, aliás, vai divulgar a primeira parte de seu quinto relatório no final de setembro, o PBMC reuniu 345 pesquisadores de diversas áreas para formular uma síntese inédita do estado da arte da produção científica nacional sobre o tema.

O RAN1 é dividido em três partes, cada uma elaborada por um grupo de trabalho distinto. A primeira traz as principais conclusões de estudos feitos entre 2007 e o início deste ano que mostram a ocorrência das mudanças climáticas no Brasil. A segunda detalha os impactos das alterações climáticas no país, realçando vulnerabilidades e medidas de adaptação à nova realidade. A terceira indica formas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa no território nacional (ver reportagem na página 22 sobre a segunda e a terceira partes do documento). “Fizemos uma compilação crítica dos dados produzidos pelos estudos mais recentes”, explica o meteorologista Tércio Ambrizzi, da Universidade de São Paulo (USP), um dos coordenadores do primeiro grupo de trabalho do PBMC sobre a produção científica nacional. “Há regiões do país, como o Centro-Oeste, sobre as quais quase não há estudos. Também temos pouca pesquisa sobre o paleoclima no Brasil.”

A maioria dos trabalhos sobre esse tema analisa o pólen fossilizado de plantas do território nacional e apresenta datação de qualidade irregular, segundo os especialistas. “Pesquisas sobre como era o clima do passado na costa do Atlântico em torno do Brasil são ainda mais raras”, afirma o paleoceanógrafo Cristiano Chiessi, da USP Leste, um dos autores do relatório. “Precisamos investir nesse tipo de estudo para sabermos o que é variação natural do clima e o que é decorrente da ação humana.”

Um modelo climático brasileiro

A divulgação do relatório do PBMC marca a incorporação de uma sofisticada ferramenta para melhorar o entendimento do clima e fazer projeções no país. O Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (Besm, na sigla em inglês) é um conjunto de programas computacionais que permite simular a evolução dos principais parâmetros do clima em escala global. “O Brasil é hoje o único país do hemisfério Sul a contar com um modelo próprio”, diz Paulo Nobre, do Inpe, um dos coordenadores do Besm. “Isso nos dará uma grande autonomia para realizar as simulações que sejam de nosso maior interesse.” Com o Besm podem ser feitas, por exemplo, projeções sobre prováveis efeitos no clima no Brasil ocasionados por alterações na circulação oceânica do Atlântico Tropical e nos biomas do país. A Austrália também estava criando um modelo climático próprio, mas preferiu juntar seus esforços aos do Centro Hadley, do Reino Unido. O modelo brasileiro está sendo desenvolvido desde 2008 por pesquisadores de diversas instituições que integram o Programa FAPESP de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG), a Rede Brasileira de Pesquisa em Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC).

Como qualquer programa de computador, o Besm é uma obra aberta, a ser aprimorada continuamente. Sua construção visa não somente a dotar o país de um modelo que seja o estado da arte para representar o sistema terrestre, mas também contribuir para a formação de uma nova geração de cientistas capazes de manejar um poderoso instrumento dedicado à previsão climática. A versão atual do Besm – que roda no supercomputador Tupã da Rede Clima/PFPMCG, instalado na unidade do Inpe de Cachoeira Paulista – já permite reproduzir vários fenômenos do clima global e regional e prever cenários futuros. O modelo consegue, por exemplo, reconstituir a ocorrência dos últimos El Niños e estimar o retorno desse fenômeno climático. O El Niño é o aquecimento anormal das águas superficiais do Pacífico Equatorial, uma alteração oceânica e atmosférica que afeta o regime de chuvas em boa parte do planeta. No Brasil tende a provocar secas na Amazônia e no Nordeste e intensificar a pluviosidade no Sul. Simulações feitas com o Besm mostraram que o hipotético desmatamento total da Amazônia aumentaria a intensidade dos El Niños e reduziria a precipitação anual sobre a região Norte em até 40%.

Os cenários climáticos gerados pelo Besm foram aceitos neste ano pela iniciativa internacional que reúne os dados produzidos pelos 20 modelos globais até agora desenvolvidos, a fase 5 do Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados (CMIP5, na sigla em inglês). Eles inauguram a participação do Brasil no IPCC como nação fornecedora de projeções em escala planetária das mudanças climáticas. As projeções geradas pelo modelo nacional serão utilizadas para a elaboração do quinto relatório sobre mudanças climáticas do IPCC.

O Besm ainda não fornece cenários tão detalhados como os gerados por outros modelos globais e mesmo pelo modelo regional do Inpe, que enfoca o clima na América do Sul e serviu de base para boa parte das projeções do primeiro relatório do PBMC. Sua resolução espacial é de 200 por 200 quilômetros, enquanto a do modelo regional do Inpe, que por ora roda “dentro” do modelo global do Centro Hadley, é usualmente de 40 por 40 quilômetros e pode chegar a 5 por 5 quilômetros. Apesar de estar em seus primórdios, o Besm já produz simulações que traçam um panorama das variações climáticas previstas para ocorrer no Brasil nos próximos 30 anos. Pesquisa FAPESPpublica em primeira mão os resultados de uma simulação inédita que mostra como a temperatura média anual da atmosfera pode variar em todos os estados do país até 2035, com base nos primeiros resultados da versão mais recente do modelo Besm. Os dados indicam um Brasil mais quente em quase todas as latitudes. “Esse é o primeiro resultado de cenário de aquecimento global futuro realizado integralmente no país, sem depender das simulações obtidas por modelos de outros países”, comenta Paulo Nobre, também um dos autores do RAN1.

Se a taxa de CO2, principal gás responsável por intensificar o efeito estufa, mantiver a tendência atual e atingir os 450 ppm daqui a três décadas, a temperatura média anual na maior parte do território nacional, em especial nas áreas mais distantes da costa, deverá se elevar até 1ºC. Apenas no Sul do país e em áreas setentrionais da região Norte a temperatura apresenta tendência a se manter estável ou até diminuir ligeiramente. “Esse resultado inicial leva em conta as contribuições das tendências de ajuste de longo tempo da circulação oceânica global e do aquecimento atmosférico decorrente do aumento moderado de CO2 em escala planetária”, explica Paulo Nobre. “São resultados preliminares. Precisamos rodar o modelo mais vezes para ter um grau maior de confiabilidade dos resultados e, assim, podermos falar mais especificamente de tendências climáticas para um estado ou uma área menor.”

As previsões do Besm para a parte mais meridional do país são as únicas que não concordam totalmente com as feitas pelo modelo regional do Inpe, que projeta uma discreta elevação de temperatura na região Sul até 2040. Até o final do século, no entanto, a maioria das projeções sinaliza que o Rio Grande do Sul vai seguir a mesma tendência das demais partes do país e se tornar mais quente. Com o aumento contínuo do CO2, a passagem do tempo faz os modelos registrarem uma elevação progressiva das temperaturas e exacerba a possibilidade de ocorrer mais ou menos chuva numa região.

O tamanho da gota de chuva

A versão mais recente do Besm conseguiu contornar, em parte, uma grande limitação da modelagem climática: prever com razoável nível de exatidão a pluviosidade na Amazônia, um traço determinante da região Norte sem o qual uma floresta tropical tão densa e exuberante não se sustenta a longo prazo. Na região Norte chove anualmente entre 2.500 e 3.400 milímetros, mais ou menos o dobro do que no Centro-Oeste, onde a vegetação típica é o cerrado, com predomínio de gramíneas e presença esparsa de pequenas árvores. “Todos os modelos climáticos globais subestimam a chuva que cai na região amazônica”, diz Paulo Nobre.

A melhoria na previsão de pluviosidade sobre a floresta amazônica foi obtida pela introdução de aprimoramentos sucessivos no componente atmosférico do Besm, com destaque para a revisão de um parâmetro: o tamanho médio do raio das gotas de chuva representadas nas nuvens geradas pelo modelo. Antes as gotas de chuva simuladas pelo Besm tinham raio médio de 1 milímetro. Agora adotam o valor de 1,4 milímetro. “O modelo climático norte-americano CAM5, do NCAR (Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica) já usava esse valor médio de raio, mas os resultados de suas projeções não corrigiram os totais pluviométricos sobre a Amazônia de forma tão satisfatória como ocorreu com nosso modelo”, afirma Paulo Nobre. “Ainda não simulamos com perfeição as chuvas. No entanto, isso nenhum modelo climático faz por enquanto.”

Com as modificações introduzidas, o Besm deu um salto de qualidade. Passou a simular melhor a formação dos ventos alísios que levam umidade à Amazônia. Começou a registrar de forma mais adequada a variação de temperatura do mar entre o Brasil e a África. Conseguiu ainda reproduzir um importante mecanismo climático conhecido como Zona de Convergência do Atlântico Sul, que regula a formação de chuvas no Sudeste e sul do Nordeste. Formado por um conjunto de nuvens que pode se estender por até 5 mil quilômetros de extensão, orientado no sentido noroeste-sudeste, a zona de convergência cruza o litoral brasileiro entre 18 e 25 graus de latitude sul.

A diferença de desempenho tem uma explicação razoavelmente simples. Cada modelo é composto por partes menores que tentam reproduzir o funcionamento dos grandes componentes do clima, como a atmosfera, os oceanos, a ocupação do solo e sua vegetação, o gelo do globo. Uma série de dados e equações particulares faz cada componente funcionar de uma maneira única e interagir com as demais partes do modelo. Por isso, ao mexer num parâmetro como o raio médio das gotas de água na cobertura de nuvens, um modelo pode melhorar seu desempenho enquanto outro pode piorar ou não apresentar mudança significativa. “Os modelos têm mais dificuldade de fazer projeções de chuvas do que temperatura”, comenta o físico Alexandre Costa, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), um dos autores do capítulo sobre nuvens e aerossóis (conjunto de diminutas partículas sólidas ou líquidas em suspensão num gás) do primeiro relatório do PBMC. “De acordo com o tamanho da gota de uma nuvem, pode ocorrer mais ou menos chuva.”

A favor de uma rede de dados ambientais

Para o físico Paulo Artaxo, da USP, um dos maiores especialistas no processo de formação de aerossóis, o primeiro relatório do PBMC servirá para o Brasil identificar áreas ainda carentes em termos de pesquisa, além de fornecer um panorama sobre os estudos a respeito das mudanças climáticas. “Temos um longo caminho a percorrer”, afirma Artaxo, membro do conselho diretor do PBMC. “O IPCC tem 20 anos e está indo para seu quinto relatório. Ainda não temos massa crítica de cientistas e falta gente para tocar algumas áreas importantes.” O físico alerta que o Brasil ainda não conta com uma rede nacional para coleta sistemática de dados ambientais mais sofisticados do que somente medidas de temperatura e pluviosidade. Na Amazônia há 12 torres que registram as trocas de carbono e energia entre a floresta e a atmosfera e medem propriedades de outros ciclos biogeoquímicos, uma iniciativa mantida pelo Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA), uma bem-sucedida parceria que há mais de duas décadas une pesquisadores do país e do exterior. Fora da região Norte existem poucas torres no território brasileiro, entre as quais uma no pantanal, outra no cerrado, uma terceira nos pampas e uma no interior paulista. “Essa estrutura de pequena escala não permite fazer uma radiografia nacional, por exemplo, das emissões e da captura de C02 atmosférico”, diz Artaxo. “Na Europa e Estados Unidos há centenas de torres que fornecem uma radiografia do que está acontecendo com o funcionamento dos ecossistemas em decorrência das mudanças climáticas.”

Para o climatologista Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTI e presidente do PBMC, os dados disponibilizados pelo Painel Brasileiro servem para guiar as políticas públicas de adaptação e mitigação das mudanças climáticas. “O trabalho do painel não se encerrará com esse primeiro relatório de avaliação, mas continuará e se tornará cada vez mais relevante”, afirma Carlos Nobre.

Projeto

Brazilian model of the Global Climate System (nº 2009/50528-6); ModalidadeProjeto Temático PFPMCG/Pronex FAPESP; Coord. Carlos Nobre/Inpe;Investimento R$ 571.200,00.

 

 

Foto (topo): Frans Lanting, Mint Images/ Science Photo Library

Figura: Fábio Otubo

Fonte: Revista Pesquisa Fapesp

Desafios no campo e nas cidades

Mudanças climáticas deverão acentuar perdas na produção agrícola, aumentar o desafio de gerar energia hidrelétrica e afetar a gestão urbana.

Por Carlos Fioravanti

“Temos de agir para evitar o pior”, comentou o agrônomo Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa em abril em uma conferência em São Paulo ao apresentar as conclusões de um dos capítulos do primeiro relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). Os pesquisadores esperam que as informações do relatório sirvam para nortear a elaboração e a implantação de políticas públicas e o planejamento das empresas. “Tendo nosso relatório”, diz Tércio Ambrizzi, do IAG-USP, um dos coordenadores do PBMC. “temos mais chance de ver as áreas em que estamos bem e as que precisamos dar mais atenção.”

Os desafios apontados no relatório brasileiro são muitos. “Temos de mudar a política agrícola, industrial e urbana, incluir preocupação com sustentabilidade e eventos climáticos extremos como as chuvas e as secas”, comenta Antonio Magalhães, assessor do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Precisamos ampliar os debates e superar a rigidez institucional, as resistências e os interesses de curto prazo.”

O relatório indica que as consequências da elevação da temperatura média global serão dramáticas no Brasil. De acordo com os modelos computacionais de simulação do clima, a agricultura será o setor mais afetado, por causa das alterações nos regimes de chuva. “Mesmo que a quantidade de chuva fique inalterada, a disponibilidade de umidade no solo deve diminuir, em consequência da elevação da temperatura média anual, que intensifica a evapotranspiração”, diz Magalhães. Segundo ele, esse fenômeno deve prejudicar os cultivos agrícolas em regiões onde a escassez de água é constante, como o semiárido nordestino.

“No Nordeste brasileiro”, prevê o relatório, “as culturas do milho, arroz, feijão, algodão e mandioca sofrerão perda significativa de produtividade devido à forte redução de área de baixo risco”. Uma provável consequência da redução da produção agrícola e da área de terras aptas à agricultura é a queda na renda das populações, intensificando a pobreza e a migração da área rural para as cidades, que por sua vez deve agravar os problemas de infraestrutura (habitação, escola, saúde, transporte e saneamento).

Os efeitos na agricultura já podem ser dimensionados. “Desde 2000 observamos uma queda na produção em algumas regiões, principalmente de café, soja e milho”, diz Assad. Segundo ele, com a elevação da temperatura, as perdas de produtividade agrícola causadas pelas variações do clima já chegam a R$ 5 bilhões por ano – e devem crescer. A previsão de um estudo da Embrapa de 2008, confirmada no relatório do PBMC, é que as mudanças do clima devem prejudicar a produção de alimentos e causar perdas estimadas em R$ 7,4 bilhões em 2020 e R$ 14 bilhões em 2070, comprometendo o agronegócio, responsável por 24% do PIB nacional. A soja deve ser a cultura mais afetada, com perdas de até 40% da área de plantio. A produção de café arábica deve cair 33% em São Paulo e Minas Gerais, embora possa aumentar no Sul do país. As previsões indicam que, em 2020 e 2030, deve haver uma redução na produção de algodão, arroz, feijão, soja, milho e trigo – como efeito da provável elevação da temperatura.

“De 1990 a 2010, a intensidade da precipitação dobrou na região do cerrado”, diz Assad, “e o padrão tecnológico atual da agricultura ainda não se adaptou a esses novos padrões”. Agora, segundo ele, torna-se imperioso investir intensivamente em sistemas agrícolas consorciados, e não somente na produção agrícola solteira, de modo a aumentar a fixação biológica de nitrogênio, reduzir o uso de fertilizantes e aumentar a rotação de culturas. “O conhecimento já existe, mas precisamos de um nível de governança mais forte”, ele afirma. “Temos de aumentar a produtividade agrícola no Centro-Oeste, Sudeste e Sul, para evitar a destruição da Amazônia. A reorganização do espaço rural brasileiro agora é urgente.”

Mais pestes e pragas

Cheias e secas mais frequentes e intensas devem causar uma redução na produção agrícola também por outra razão. Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna, concluíram que algumas doenças – principalmente as causadas por fungos – e pragas podem se agravar em muitas das 19 culturas analisadas – entre as quais soja, milho, café, arroz, feijão, banana, manga e uva – em decorrência da elevação dos níveis de CO2 do ar, da temperatura e da radiação ultravioleta B, como previsto nos cenários de mudanças do clima, acenando com a possibilidade de aumento de preços e de redução de variedade de cereais, hortaliças e frutas. Outra possibilidade é a migração de doenças como a sigatoka negra, a mais preocupante praga da bananeira, causada por um fungo, que deve perder intensidade em algumas regiões produtoras, mas emergir onde ainda não se manifestou (ver Pesquisa FAPESP nº 198).

Cheias e secas mais intensas e frequentes, de acordo com o relatório do PBMC, devem também alterar a vazão dos rios e prejudicar o abastecimento dos reservatórios das hidrelétricas, acelerar a acidificação da água do mar e reduzir a biodiversidade dos ambientes aquáticos brasileiros. A perda de biodiversidade dos ambientes naturais brasileiros deve se agravar; alguns já perderam uma área expressiva – o cerrado, 47%, e a caatinga, 44% – a ponto de os especialistas questionarem se a recuperação do equilíbrio ecológico característico desses ambientes seria mesmo possível.

Quem mora nas cidades, principalmente nas regiões costeiras, terá de se preocupar com o risco ampliado de deslizamento de encostas, enxurradas ainda mais fortes e com os possíveis efeitos da elevação do nível do mar, da intensificação das ondas de calor, que pode agravar a mortalidade principalmente de portadores de doenças cardíacas e respiratórias, e com a proliferação de insetos transmissores de dengue e malária, beneficiados pela temperatura mais alta. “Se não nos prevenirmos diante da possibilidade de intensificação do calor e da umidade nas cidades”, alerta Assad, “a tendência é de termos mais problemas de saúde pública”.

O que fazer?

O grupo de trabalho coordenado por Assad e Magalhães sugeriu medidas de adaptação à inclemência do clima nas cidades, como a implantação de parques lineares na margem de córregos, o controle da erosão nas cidades costeiras, onde vivem 85% da população do país, e o remanejamento dos moradores das áreas de risco, para reduzir o impacto de cheias e evitar inundações dantescas como a da cidade de Petrópolis há dois anos. “Frequento a cidade do Rio há 50 anos, mas só depois de mil pessoas morrerem em Petrópolis é que vi garis limpando as bocas de lobo em Copacabana”, diz Assad. “Um prefeito de Minas Gerais adotou medidas contra inundações, recolhendo lixo e limpando as bocas de lobo, não houve inundações na cidade dele nos dois anos seguintes, mas no terceiro as medidas de prevenção não foram mais adotadas.”

“As incertezas não justificam adiamento das decisões sobre mitigação de emissão de gases do efeito estufa”, comenta Mercedes Bustamante, professora da Universidade de Brasília e coordenadora da equipe que examinou as perspectivas de redução dos impactos (mitigação) e de adaptação às mudanças climáticas. Emilio Rovere, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro que também esteve à frente da equipe que elaborou essa parte do relatório, reconheceu “a quase impossibilidade de estabilização da temperatura em apenas 2 graus acima do nível pré-Revolução Industrial”, “a viabilidade de se alcançar os objetivos voluntários de limitação de emissões já aprovados pelo governo brasileiro” – a redução de 36 a 38% na emissão de gases do efeito estufa até 2020, anunciada em dezembro de 2010, por meio da redução do desmatamento, recuperação de pastagens degradadas e da implantação de políticas agrícolas, ambientais e energéticas ambientalmente sustentáveis – e “a tendência de retomada do crescimento das emissões brasileiras após 2020, caso não sejam aprovadas medidas adicionais de mitigação”.

Os especialistas desse grupo concluíram que aparentemente é possível, sim, conciliar a redução da emissão de gases do efeito estufa com desenvolvimento econômico. “O governo não está parado, mas as ações ainda são tímidas”, afirma Assad. O governo federal promoveu os primeiros leilões de energia eólica e solar, mas o etanol, que representa uma alternativa menos poluente que os combustíveis fósseis, ainda é pouco prestigiado, segundo ele. Uma iniciativa relevante é o programa Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), que destinou R$ 3,5 bilhões em financiamentos para a safra 2011/2012 com o propósito de motivar os produtores rurais a reduzirem a emissão de gases do efeito estufa, por meio do plantio direto sobre a palha do cultivo recém-colhido, da recuperação de pastagens degradadas para a produção de alimentos e do incentivo à integração de florestas, pecuária e lavoura. Como resultado do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, o desmatamento caiu de 27 mil km2 para 4 mil km2 em menos de 10 anos, mas os ajustes nas áreas de transportes ainda são lentos. “Precisamos de mais trens, metrôs e ciclovias, não podemos nos basear mais nos meios de transporte individual, principalmente nas cidades”, diz Assad.

Os autores do relatório reconhecem que o diálogo está crescendo. Antigos oponentes, como os produtores agrícolas, agora são aliados. O Plano Nacional sobre Mudança do Clima e o reconhecimento pelo governo dos Estados Unidos de que as mudanças climáticas são um problema devem acelerar a implantação de políticas efetivas nessa área. “Todas as esferas de governo, indústria, comércio e sociedade precisam estar envolvidas no desenvolvimento de uma resposta nacional adequada”, afirma Assad. Magalhães, do CGEE, reconhece que essa articulação ainda está no começo, embora a preocupação com as mudanças do clima seja crescente.

“Quando começou internacionalmente a discussão sobre mudanças climáticas, sobretudo a partir da criação do IPCC em 1989, o assunto não chegou a sensibilizar os tomadores de decisão no Brasil. Levou mais de uma década para que o país reagisse”, diz Magalhães. “Hoje já existe uma Comissão Nacional sobre Mudanças Climáticas, um Fórum Nacional e Fóruns Estaduais, que incluem a sociedade civil, um Plano Nacional, e agora estão sendo elaborados planos setoriais de adaptação àquelas mudanças que já são inevitáveis. Vários ministérios e instituições já planejaram suas ações, mas ainda falta esforço e maior consistência nas respostas. Esse movimento de articulação tende a crescer. O futuro tem de ser diferente, porque o governo acaba refletindo o que a sociedade quer.”

Foto: Wilton JR/ AE

Fonte: Revista Pesquisa FAPESP

Cidades brasileiras buscam ações de sustentabilidade

Carbon Disclosure Project afirma que municípios do país estão começando a "acordar" para nova realidade de um clima em constante mudança, e buscam soluções apesar da falta de iniciativas do governo federal

Por Jéssica Lipinski

As medidas de sustentabilidade e mitigação de emissões em nível municipal já são uma realidade em diversas cidades do mundo. As que costumam chamar mais a nossa atenção são, na maioria das vezes, a de grandes municípios no Hemisfério Norte, o que pode dar a impressão de que as cidades brasileiras não estão buscando soluções para seus problemas ambientais e climáticos.

Mas em entrevista ao Instituto Carbono Brasil, Fernando Figueiredo e Juliana Lopes, diretores para Brasil e América Latina do Carbon Disclosure Project (CDP), afirmam que os municípios brasileiros estão começando a “acordar” e a se convencer de que é necessário adaptar-se a essa nova realidade de um clima em constante mudança.

O CDP é uma organização internacional sem fins lucrativos que tenta ajudar empresas e cidades a medirem, divulgarem, gerenciarem e compartilharem informações vitais sobre o meio ambiente. Atuando em diversos países, a entidade é um dos principais atores globais quando o assunto é inventário de emissões e avaliação de impactos ambientais.

Segundo o mais recente relatório do CDP sobre projetos sustentáveis, o Wealthier, healthier cities (algo como Cidades mais prósperas e saudáveis), realizado em 110 municípios do mundo todo, a participação das cidades brasileiras no relato de ações sustentáveis cresceu mais de 265%.

No total, 11 municípios do país responderam ao CDP Cities, contra três no último ano, dentre os quais nove – Belo Horizonte (MG), Campinas (SP), Goiânia (GO), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Salvador (BA), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) – foram convidados pelo CDP. As três últimas cidades listadas, Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo, são participantes do C40. Além desses, dois municípios participaram como voluntários: Aparecida (SP) e Jaguaré (ES).

De acordo com Figueiredo, o relatório é publicado desde 2011, e “desde então o número de cidades participantes só aumenta”. Uma das vantagens da participação no documento é que permite que os municípios criem um diagnóstico daquilo que falta para se tornarem mais sustentáveis, aponta.

Juliana Lopes cita, por exemplo, que “muitas das cidades dizem que não têm inventário de emissões, e o envio do questionário para o relatório faz com que elas percebam suas falhas, apontem suas lacunas e construam estratégias de mitigação de emissões e sustentabilidade”.

Segundo Lopes, os gestores e prefeitos de municípios estão começando a perceber que problemas ligados à água e saneamento básico tendem a crescer com as mudanças climáticas, e por isso a preocupação com a adaptação a desastres.

Ela destaca que algumas cidades já estão catalisando iniciativas de mitigação de emissões, por exemplo, que têm levado a reduções de custos e desenvolvimento econômico. Além disso, relatar ações de mitigação de emissões e de sustentabilidade contribui para uma maior transparência na gestão ambiental do município.

A cidade de Belo Horizonte, por exemplo, está atualmente vivenciando um aumento nas enchentes devido a tempestades. Entre outros efeitos, essas enchentes resultam em prejuízos para pequenos comerciantes, que perdem produtos, assim como outros bens, como móveis. Tempestades e enchentes também prejudicam o tráfego, que dificulta ou impede que os empregados cheguem a seus locais de trabalho.

“Se essa situação persistir ou ficar pior, pode afastar possíveis empreendedores”, sustenta o governo da cidade. Sendo assim, o que o governo de BH está desenvolvendo esforços especiais para proteger o município dos efeitos das mudanças climáticas. Muitos desses esforços também trouxeram benefícios na proteção dos negócios.

A cidade está, por exemplo, trabalhando para melhorar a infraestrutura de água e transporte, a fim de reduzir as enchentes e manter os comerciantes em segurança. Com isso, diz Lopes, os investidores empresariais também estão começando se voltar para a mitigação das mudanças climáticas como uma oportunidade de negócios.

Desafios e oportunidades

Mesmo assim, os municípios ainda enfrentam muito desafios para tornar a mitigação das mudanças climáticas e ações sustentáveis uma realidade. Um deles, comenta Lopes, é que essas ações “ainda não são prioridade na agenda. Os investimentos ainda têm muito que caminhar nesse sentido. Alguns fundos já estão se interessando, mas não é a grande maioria.” “Falta organização no sentido de construir uma estratégia conjunta”, completa Figueiredo.

Outro desafio seria a falta de capacitação técnica da equipe da cidade no entendimento da temática mudanças climáticas. Fica mais difícil desenvolver estratégias de sustentabilidade quando não há muitas pessoas que dominem o assunto.

Também falta uma agenda convergente e de articulação entre as esferas federal, estadual e municipal do governo. Há uma desconexão entre o governo federal e as outras esferas, um fator de desalinhamento.

 Os planos do governo federal, por exemplo, em se tratando da mitigação das emissões e adaptação às mudanças climáticas, pouco contemplam estratégias a serem desenvolvidas em nível municipal. Além disso, o consumidor e o cidadão ainda não têm canais para forçar e demandar esse processo e pedir por mais sustentabilidade.

Mas o CDP ainda vê caminhos pelos quais essas estratégias podem se desenvolver. Um deles é o compartilhamento de informações entre as cidades sobre as ações criadas e implementadas, seus desafios, oportunidades, erros e acertos.

O grupo acredita que é possível estimular essas ações através da troca de experiências, como reportar as ações de mitigação, aumentando a eficácia das próprias iniciativas e da gestão dessas medidas.

 Um exemplo são os municípios de Buenos Aires, Nova York e Cidade do México, que firmaram uma parceira de troca de informações sobre seus projetos de sustentabilidade. No Brasil, o Rio de Janeiro resolveu dividir informações sobre suas ações com outras cidades, e fóruns para compartilhamento de experiências com representantes de muitas delas devem ocorrer no segundo semestre do ano, com o CDP com um papel indutor nesses fóruns sobre como construir governanças climáticas.

MDL

Para o CDP, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é uma ferramenta que pode ser desenvolvida pelas cidades futuramente, já que alguns governos nacionais estão vendo nos mercados de carbono uma estratégia em longo prazo para a mitigação das emissões.

De fato, há uma tendência de surgimento de mercados nos municípios e estados, e o grupo destaca a importância de uma padronização nesse sentido. O CDP ressalta, no entanto, que isso ainda não está evidenciado nas respostas das cidades, e que não parece ser economicamente viável em curto prazo, já que atualmente o mecanismo vive uma crise, apresentando recordes de baixa nos preços.

Próximos passos

Como facilitador e colaborador das estratégias de sustentabilidade nos municípios, as próximas ações do CDP no Brasil visam sobretudo à consolidação e ampliação dos programas de gestão existentes no país (mudanças climáticas e cadeia de suprimentos) e à ampliação do número de cidades brasileiras participantes do relatório do CDP, a fim de criar sinergias para o desenvolvimento de projetos.

Além disso, o CDP pretende implantar no país dois programas internacionais do grupo ligados a empresas, de água e de florestas. O objetivo é “ampliar a questão do capital natural para empresas, aumentando também as discussões quantitativas e qualitativas sobre mudanças climáticas no setor”, concluiu Figueiredo.

Fonte: Instituto Carbono Brasil

OMM: Última década foi a mais quente desde 1850

Organização Meteorológica Mundial reconhece o papel dos gases do efeito estufa no aquecimento do planeta e chama o período entre 2001 e 2010 de década dos extremos climáticos

Por Fabiano Ávila

A primeira década deste novo século apresentou as temperaturas médias mais altas já registradas desde que começaram as medições modernas, em 1850. Além disso, mais recordes de calor foram batidos entre 2001 e 2010 do que durante qualquer outro período.  Para piorar, o aumento do nível dos oceanos se deu em um ritmo duas vezes mais rápido do que nos 100 anos anteriores.

Essas são apenas algumas das constatações do recém-publicado “The Global Climate 2001-2010, A Decade of Climate Extremes”, da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

“O relatório mostra que o aquecimento global acelerou nas quatro décadas entre 1971 e 2010 e que a taxa de aumento entre 1991-2000 e 2001-2010 é sem precedentes. O aumento da concentração de gases do efeito estufa está transformando nosso clima, com implicações para nosso meio ambiente e oceanos, os quais estão absorvendo tanto dióxido de carbono quanto calor”, explica Michel Jarraud, secretário-geral da OMM.

De acordo com o documento, a concentração de CO2 na atmosfera subiu para 389 partes por milhão em 2010, um aumento de 39% com relação ao começo da Era Industrial.  Vale lembrar que essa concentração atualmente está na faixa das 400ppm.

“Variabilidades climáticas naturais, causadas por interações entre nossa atmosfera e os oceanos – como evidenciadas pelo El Niño e La Niña – significam que alguns anos foram mais frios que outros. Observada em uma escala anual, a curva da temperatura global apresenta nuances. Mas em termos de longo prazo, a tendência é claramente para cima, ainda mais no período recente”, afirmou Jarraud.

A temperatura média global entre 2001-2010 foi estimada em 14,47°C, 0,47°C acima da média entre 1961-1990, que por sua vez já havia sido 0,14°C mais quente do que a década anterior.

Todos os anos da última década, com exceção de 2008, estão entre os dez mais quentes já registrados, sendo que 2010 apresenta o recorde histórico, com 14,54°C. Dos 139 países observados pelo relatório, 94% tiveram na década passada a mais quente já monitorada.

No Brasil, a anomalia de temperatura foi ainda mais elevada, com um aumento na média de 0,74 °C.  Porém, coube à Groenlândia a maior anomalia, com 1,71°C, alta que foi ainda mais pronunciada em 2010, com espantosos 3,2°C acima da média.

Todo esse calor resultou, é claro, em um maior degelo nas regiões polares e nas cadeias de montanhas. O que, por sua vez, teve impacto na elevação do nível dos oceanos.

Segundo a OMM, o mar avançou uma média de três milímetros por ano, quase o dobro do observado durante o século XX, 1,6 milímetros. O nível atual dos oceanos está 20 centímetros acima do que estava em 1880.

Extremos Climáticos

As consequências de um planeta tão aquecido variam por região, mas não é à toa que a OMM batizou 2001-2010 da década dos extremos.

Foram observadas ondas de calor recorde na Europa, o furacão Katrina nos Estados Unidos, ciclones tropicais no Sudeste da Ásia, secas históricas na Amazônia, Austrália e África Oriental e enchentes no Paquistão, América do Sul e África.

De acordo com o relatório, 2001-2010 foi a década mais úmida desde 1901. Novamente 2010 aparece como o ano mais extremo, sendo o mais úmido já registrado na história.

Por isso, enchentes foram os eventos climáticos extremos mais frequentes durante a última década. Europa, Índia, Paquistão, Austrália e África apresentaram mais de uma crise com o excesso de chuvas. Apesar de o relatório não mencionar, vale destacar que em 2005 Santa Catarina sofreu a pior enchente de sua história, com mais de 200 mortos.

Secas e ondas de calor também foram mais frequentes do que a média do século passado, com praticamente todas as partes do planeta sofrendo com pelo menos um desses eventos na década passada.

Destaque para as secas na Amazônia em 2005 e 2010, confirmando tendências apontadas por outros estudos de que, com um planeta sob o aquecimento global, a região passará a ter estiagens mais intensas e frequentes.

Com relação a ondas de calor, a Europa e os Estados Unidos sofreram muito em 2003, 2005, 2008 e 2010, sendo registradas mortes de crianças e idosos. No Brasil, o relatório salienta a onda de calor entre janeiro e março de 2006, com a cidade de Bom Jesus, no Piauí, atingindo os 44,6°C.

No total, entre 2001 a 2010, mais de 370 mil pessoas teriam morrido como resultado de eventos e condições climáticas extremas, uma alta de 20% com relação à década anterior. Felizmente, já existe uma conscientização sobre problemas como ocupação de áreas de risco, e houve uma queda de 43% nas mortes por enchentes.

“Apesar da significante redução nas fatalidades resultantes de enchentes e tempestades, o relatório não deixa de destacar a alta taxa de mortalidade causada por ondas de calor na Europa e na Rússia. Dado que as mudanças climáticas devem levar a ainda mais intensas e frequentes ondas de calor, precisamos estar preparados”, disse Jarraud.

O “The Global Climate 2001-2010, A Decade of Climate Extremes” é gratuito e já está disponível para download.

Fonte: Instituto Carbono Brasil

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