Rio Clima, evento paralelo da Rio+20, discute aquecimento global

2012041581380.jpg-G2UH3JTH.1Segundo levantamento, planeta pode chegar ao final do século quatro graus mais quente.

RECIFE - Prevista para se realizar entre os dias 14 e 17 de junho no Rio de Janeiro, a Rio Clima - evento paralelo da Rio+20 - deve atrair representantes de 19 países que deverão pressionar os chefes de Estado por medidas concretas que evitem o aumento do aquecimento global, cujas simulações matemáticas indicam um futuro sombrio para a humanidade. Caso não sejam tomadas providências, o planeta pode chegar ao final do século com elevação de até quatro graus de temperatura. Foi com base nessa informação, que cientistas, pesquisadores, políticos e representantes de organizações oficiais e não governamentais passaram três dias reunidos em Recife, discutindo propostas para amplificar ações.

O encontro acabou sem conclusão nem carta oficial, mas com uma decisão: a elaboração de um documento com propostas que garantam a sustentabilidade da economia mundial, cujo teor será divulgado em entrevista coletiva, no Rio Centro, no dia 20 de junho, pouco antes, portanto, da chegada ao Rio das autoridades internacionais maiores.

Os especialistas ouvidos em Recife, no entanto, não acreditam que a iniciativa vá operar mudanças na Rio+20, já que a questão do clima não é prioridade da pauta, embora a conferência internacional esteja focada em dois eixos principais, que são a governança e a economia verde. Eles esperam que a mobilização da sociedade possa não só atrair as atenções da mídia internacional como também sensibilizar as autoridades presentes à Rio+20 - um dos principais assuntos das discussões de Pernambuco no Clima, como foi chamado o evento preparatório que se encerrou neste domingo na capital.

Já o documento que começa a ser discutido internacionalmente e que será arrematado na Rio Clima, abordará a mitigação (propostas para a redução das emissões de gás carbônico na atmosfera), a criação de uma nova estrutura financeira que contemple iniciativas de baixo carbono, adaptação e inovações tecnológicas.

- Além disso, a reunião aqui em Recife serviu para prepararmos um acordo internacional simulado, realista e detalhado, que vai ser apresentado para o governo como instrumento de mobilização da sociedade civil - afirmou o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), Presidente da Subcomissão Rio+20, da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.

Objetivo é pressionar Rio+20 por acordos sobre o clima

Para mostrar que um acordo internacional em defesa do clima é possível, Sirkis convidou para a solenidade de abertura duas lideranças que poderiam ser historicamente antagônicas, mas que vêm trabalhando juntas por acordos internacionais de paz, como o israelense Yossi Beilin e o palestino Yasser Abed Rabbo. O primeiro já ocupou pelo menos cinco ministérios no seu país. E o segundo é secretário geral da Organização de Libertação da Palestina. Ambos participaram de negociações informais em 2001 para o Acordo de Genebra.

- Eles servem de inspiração para o que queremos. Estamos trabalhando na simulação de um acordo realista e detalhado, que vai ser apresentado para o governo, como instrumento de mobilização da sociedade civil - disse Sirkis.

- Paralelo ao acordo simulado, vamos fazer recomendações para os chefes de estado presentes na Rio+20, com a conferência de imprensa do dia 20. São recomendações que se encaixam dentro dos temas da economia verde e governança, e que têm relaçao com a questão do clima. Nem sabemos se vamos influenciar a Rio+20, porque esse compromisso genérico já faz parte do documento do evento, que possui mais de cem páginas, e que parece ser vítima de obesidade mórbida - ironizou o deputado.

- Na realidade, teremos duas Rio+20. A oficial e a outra, paralela, que é muito mais importante. A Rio+20 não vai fazer negociações diplomáticas sobre o clima, embora o seu tema seja a economia verde. Mas a mudança climática é o problema mais urgente e mais grave para um desenvolvimento sustentável. Então, o objetivo dessa reunião em Pernambuco é mostrar ao mundo e à Rio+20 que é possível um acordo sobre as mudanças climáticas. Há um desânimo muito grande diante do fracasso total em negociações do clima. Não esperamos que a Rio+20 assuma alguma negociação sobre o clima, mas desejaríamos que sua declaração final contemplasse de forma mais efetiva essa prioridade - afirmou Sérgio Bersseman, Presidente do Grupo de Trabalho da Rio+20 pela Prefeitura do Rio de Janeiro, e que esteve na capital pernambucana representando o Prefeito Eduardo Paes.

- Vamos tentar pressionar a Rio+20, como atores do processo. Mas reconheço, como analista político, que o impacto da nossa mobilização no documento final da conferência internacional será pequeno. O documento final da Rio+20 já vem quase definido, não é fácil mudá-lo. Mas mobilizar a massa da sociedade civil é um grande negócio e atingir a mídia mundial pode ter um grande impacto - disse o argentino Eduardo Viola, Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.

Para o ex-deputado, ambientalista e hoje consultor Fábio Feldmann, a reunião de Recife e a Rio Clima não serão em vão:

- Um grande problema da Rio+20 é que não trata do clima, da desertificação, da biodiversidade. Além disso, a agenda da conferência internacional é muito dispersa. O nosso grande mérito será mostrar uma posição representativa da comunidade científica, das organizações sociais e criar uma massa crítica que possa influenciar. É importante que mantenhamos uma posição firme, suficiente para darmos nosso recado - disse.

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