A segurança alimentar global está ameaçada pelo surgimento e disseminação de pragas e doenças, um fenômeno estimulado pelo aquecimento global, sugere um novo estudo publicado no periódico científico Nature Climate Change. Segundo os pesquisadores das universidades de Exeter e Oxford, as pragas e patógenos estão se movendo a uma média de 3 quilômetros (Km) por ano.
Em função do aumento das temperaturas, elas se distanciam da linha do Equador e seguem rumo aos polos Sul e Norte, se estabelecendo em regiões muito frias e inadequadas até então para sua proliferação, explica o estudo.
Tal fenômeno, dizem os pesquisadores, constitui mais uma ameaça à produção de alimentos. Atualmente, estima-se que entre 10% e 16% das culturas globais são perdidas devido à pragas e surtos de doenças na agricultura.
Para investigar o problema, os pesquisadores analisaram os registros de 612 pragas e patógenos de todo o mundo que haviam sido coletados ao longo dos últimos 50 anos. O estudo ressalta, entretanto, que o comércio global de culturas é um dos principais responsáveis pela circulação de pragas e patógenos entre os países.
Mas sublinha que os organismos só são capazes de se fixar se as condições do ambiente forem adequadas. A elevação das temperaturas, segundo a pesquisa, está facilitando essa fixação em regiões de altas latitudes. (Fonte: Exame.com)
Trinta e cinco anos atrás, o cientista John H. Mercer deu um aviso. Então, já estava ficando claro que as emissões humanas aqueceriam a Terra, e Mercer começara a meditar profundamente a respeito das consequências.
Publicado na Nature , o estudo tinha como título “Lençol de gelo da Antártica Ocidental e efeito estufa: Uma ameaça de desastre”. No texto, Mercer destacava a topografia incomum do lençol de gelo sobre a porção ocidental da Antártida. Boa parte dela fica abaixo do nível do mar, em uma espécie de tigela, e, segundo ele, o aquecimento climático poderia fazer tudo se degradar rapidamente, em uma escala de tempo geológica, levando a um possível aumento no nível do mar de quase cinco metros.
Embora agora esteja claro que nos encontramos nos primeiros estágios do que provavelmente é uma elevação substancial do nível do mar, ainda não sabemos se Mercer estava certo sobre a instabilidade perigosa que poderia levar aquele aumento a acontecer rapidamente, em tempo geológico. Talvez estejamos chegando perto de decifrar isso. Um novo estudo intrigante vem das mãos de Michael J. O’Leary, da Universidade Curtin, Austrália, e cinco colegas espalhados pelo mundo. O’Leary passou mais de uma década explorando a remota costa oeste da Austrália, considerada um dos melhores lugares do mundo para estudar os níveis do mar do passado.
Publicado em 28 de julho no periódico Nature Geoscience , o estudo se concentra em um período quente na história da Terra que precedeu a mais recente idade do gelo. Aquela época, às vezes chamada período interglacial eemiano, a temperatura planetária era parecida com os níveis que poderemos ver nas décadas futuras como resultado das emissões humanas, assim é considerada um possível indicador do que vai acontecer.
Ao examinar praias fósseis elevadas e recifes de coral ao longo de quase dois mil quilômetros de costa, o grupo de O’Leary confirmou uma coisa que nós basicamente já sabíamos. No mundo quente do eemiano, o nível do mar se estabilizou durante milhares de anos entre três e três metros e meio acima do mar moderno.
A parte interessante é o que aconteceu depois disso. O grupo de O’Leary descobriu o que considera um indício convincente que perto do fim do eemiano, o nível do mar saltou mais cinco metros, para se estabilizar a cerca de nove metros acima do mar moderno, antes de começar a cair enquanto a era glacial se instalava.
Durante entrevista, O’Leary contou estar confiante de que o salto de cinco metros aconteceu em menos de mil anos, quanto tempo a menos, ele não tem certeza.
Veja como algumas cidades do mundo estão se preparando para o aquecimento global
A descoberta é uma espécie de desagravo para um dos membros da equipe, Paul J. Hearty, geólogo da Carolina do Norte. Ele vem defendendo há décadas que os registros nas rochas sugeriam um pulo do gênero, mas somente recentemente as técnicas de mensuração e modelagem chegaram ao nível de precisão necessária para definir o caso.
Ainda será preciso ver se os resultados suportam o exame crítico. Cientista especializada no nível do mar e não envolvida com o trabalho, Andrea Dutton, da Universidade da Flórida, afirmou que o estudo não citava informações detalhadas o suficiente sobre os locais para que ela tirasse uma conclusão geral. Contudo, se o trabalho se sustentar, as implicações são profundas. A única possível explicação para um salto tão rápido e grande no nível do mar é o colapso catastrófico do lençol de gelo polar, na Groenlândia ou na Antártica.
O’Leary não está preparado para apontar qual; essa descoberta é o próximo projeto do grupo. Porém, uma elevação de cinco metros em menos de mil anos, um instante geológico, deve significar que um ou os dois lençóis de gelo contém instabilidades profundas as quais podem ser desencadeadas por um clima mais quente.
Logicamente, tal cenário traz prognósticos ruins para os humanos.
Cientistas da Universidade de Stanford calcularam recentemente que as emissões humanas estão fazendo o clima mudar muitas vezes mais rápido do que em qualquer momento desde que os dinossauros morreram. Estamos pressionando tanto o clima que, se os lençóis de gelo tiverem um limite de algum tipo, temos uma boa chance de ultrapassá-lo.
Outro estudo recente, de Anders Levermann, do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto no Clima, Alemanha, e meia dúzia de colegas, insinua que mesmo que as emissões parassem amanhã, nós provavelmente já garantimos vários metros de aumento do nível do mar no longo prazo.
Benjamin Strauss e colegas do Climate Central, grupo independente de cientistas e jornalistas de Princeton, que divulga pesquisas climatológicas, traduziram os resultados de Levermann em formato gráfico, mostrando a diferença que faríamos se fosse possível dar início a um programa agressivo de controle de emissões. Pelo que sugerem os cálculos, em 2100, seguindo nessa toada, iríamos ter um aumento do nível do mar de sete metros, mas reduções agressivas nas emissões poderiam limitar a elevação a dois metros.
Se você for o prefeito de Miami ou de uma cidade litorânea de Nova Jersey , você pode estar se perguntando em quanto tempo, exatamente, isso vai acontecer.
Nesse aspecto crucial, infelizmente, nossa ciência ainda é praticamente cega. Os cientistas sabem olhar as rochas e ver evidências incontestáveis de saltos no nível do mar, e podem associá-los a aumentos relativamente modestos na temperatura global. Porém, a natureza da prova é tal que fica difícil diferenciar entre algo que aconteceu em mil ou em cem anos.
Na escala de tempo humana, é claro, faz toda a diferença do mundo.
Se o mar for subir, por exemplo, nove metros ao longo de milhares de anos, o tempo é mais do que suficiente para nos ajustarmos, recuar das praias, reforçar as cidades maiores e desenvolver tecnologias que nos ajudem a lidar com isso.
Entretanto, se o nível do mar for capaz de subir vários metros por século, como o estudo de O’Leary parece sugerir e como muitos outros cientistas acreditam, então os bebês que estão nascendo agora poderiam viver para ver as primeiras etapas de uma calamidade global. (Fonte: Portal iG)
Nos próximos 30 anos, a cidade do Rio Janeiro é a que mais sofrerá, entre os municípios do Estado, com o aumento do nível do mar, chuvas intensas, inundações, perda de biodiversidade, além do aumento de casos de doenças causadas pelas mudanças climáticas.
Esse prognóstico faz parte de um estudo inédito realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz, que mediu o grau de vulnerabilidade da população do Rio de Janeiro diante das mudanças previstas para os próximos 30 anos. Para os pesquisadores, o mapa da vulnerabilidade pode auxiliar governos a criar políticas públicas para amenizar os efeitos dessas transformações.
“O mapa aponta a vulnerabilidade e o gestor público local pode avaliar, além de desenvolver uma ação para reduzi-la. Como apontamos os fatores mais relevantes, é possível priorizar ações onde essa vulnerabilidade é maior”, conta Martha Barata, coordenadora do projeto.
Com a mudança climática, problemas já existentes vão se tornar mais intensos. A lista inclui aumento de casos de dengue e leptospirose, número elevado de mortes causadas por eventos climáticos, como deslizamentos e enchentes, a perda da biodiversidade e de parte da agricultura.
A pesquisa apontou que os municípios da macrorregião metropolitana do Rio de Janeiro, da qual fazem parte Niteroí, São Gonçalo, Nova Iguaçu, Magé e Duque de Caxias, serão os mais atingidos.
O Índice de Vulnerabilidade Geral foi calculado a partir de três indicadores e associado ao Índice de Cenários Climáticos, produzidos com base nos modelos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e relaciona aumento de temperatura e precipitações. “O estudo possibilita fazer uma avaliação, dizer quais são as áreas mais vulneráveis no Estado e porque elas são mais vulneráveis, se é por conta do indicador de saúde, ambiental ou social”, afirma Barata.
Impactos para a população – Para diminuir os impactos previstos, as informações geradas pelo estudo precisam ser aplicadas com cautela, levando em consideração as diferenças dentro dos próprios municípios. “Depende de como esse mapa vai ser trabalhado, como instrumento para auxiliar a construção e desenho de uma política. Eles (estudos do tipo) são sempre úteis, mas é preciso ter cuidado”, reforça Antonio Miguel Vieira Monteiro, pesquisador do Inpe.
Monteiro cita como exemplo as diferenças entre a zona norte e a zona sul do Rio de Janeiro. “Quando agrego isso a nível municipal estou fazendo uma média, dando uma resposta meio global para uma situação que se materializa no local”, acrescenta.
A pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz é pioneira na abrangência de dados relacionados às mudanças climáticas com foco na análise municipal. Mas o tema motiva diversas pesquisas no Brasil.
O Núcleo de Estudos da População da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também se debruça sobre o assunto. “Realizamos várias iniciativas de avaliação de vulnerabilidades em nível interurbano ou metropolitano. Além disso, os nossos trabalhos podem ser definidos como principalmente abordando a vulnerabilidade sociodemográfica, com a consideração de fatores específicos em diferentes trabalhos, como declividade e riscos geotécnicos”, diz Roberto Luiz do Carmo, pesquisador do Nepo.
Assim como Barata, Carmo também reafirma a importância desses estudos. “Com a identificação desses grupos, e o entendimento sobre quais são os elementos definidores de suas vulnerabilidades, podemos subsidiar políticas públicas que sejam efetivas para diminuir os efeitos das variações climáticas”, reforça.
Falhas estruturais – Para Carmo, as cidades no País não foram construídas e organizadas para enfrentar questões ambientais. Lugares impróprios, como encostas íngremes e várzeas dos rios foram ocupadas por ser a única opção de moradia para a população de baixa renda.
Apesar das mudanças climáticas serem um tema frequente, até hoje ainda não fazem parte das decisões políticas e, principalmente, das relacionadas aos problemas antigos de urbanização, afirma o pesquisador.
“Se não enfrentarmos esses problemas de maneira ampla e profunda, com uma política habitacional responsável e sustentável, continuaremos assistindo aos mesmos problemas decorrentes das variações climáticas, que devem se acentuar nesse contexto de mudanças ambientais globais que se anuncia”, ressalta Carmo.
Martha Barata acredita que o País tenha condições para enfrentar as mudanças. “Mas temos que investir mais”, finaliza. (Fonte: Terra)
Os cientistas estão cada vez mais certos de que o aquecimento global é causado pelo homem. Segundo informações divulgadas pela agência de notícias Reuters e reproduzidas pela imprensa internacional, o próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) deverá aumentar de 90% para 95% o nível de certeza científica sobre a "culpa" do homem no processo.
As informações são de um rascunho do relatório, obtido pela Reuters. O documento final está previsto para ser divulgado no fim de setembro. Será a primeira parte do quinto grande relatório do IPCC. O último foi publicado em 2007.
"É extremamente provável que a influência humana sobre o clima tenha causado mais da metade do aumento observado da temperatura média da superfície global entre 1951 e 2010", diz o rascunho do relatório. "Há muita confiança de que isso aqueceu os oceanos, derreteu neve e gelo, aumentou o nível médio global do mar e alterou alguns extremos climáticos na segunda metade do século 20."
Uma das previsões mais preocupantes é de que o nível do mar poderá subir mais de 1 metro até o final deste século, caso as emissões de gases do efeito estufa continuem a crescer. Já a temperatura global poderá subir entre 1 °C e 5 °C, em comparação com a era pré-industrial.
Previsões desse tipo, com diferentes números, vêm sendo publicadas em vários trabalhos científicos ao longo dos últimos anos. O que os relatórios do IPCC fazem é justamente revisar e condensar essas informações para produzir uma previsão consolidada de referência. / NYT E REUTERS