A 22a reunião das Partes (países) que assinaram a Convenção do Clima (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) – COP22, começou no dia 07 de novembro, em Marraquexe, no Marrocos, e tem previsão de ser finalizada em 18 de novembro de 2016.
O resultado das eleições americanas gerou um clima de tensão e especulações na 1ª semana da COP sobre o futuro das negociações climáticas. A delegação da França até lançou uma campanha “Don’t Mess with Paris” se referindo a todo o esforço durante anos no processo de construção do Acordo global, que entrou em vigor no dia 4 de novembro de 2016. Apesar das declarações contrárias ao avanço das negociações feitas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, que é o segundo maior poluidor depois da China, a NDC (Contribuição Nacional Determinada) apresentada pelo país não poderá ser modificada nos próximos 4 anos. Isso vale para todos os países que ratificaram o Acordo. O objetivo é que as metas apresentadas sejam revistas periodicamente no sentido de aumentar a ambição das ações dos países. No entanto, como o objetivo da COP22 é dar inicio ao processo de regulamentação do Acordo de Paris, caso os EUA não tenham interesse em fazer avançar o cronograma de implementação do Acordo previsto para 2020, é possível que se demore mais tempo para colocá-lo em prática. Só como exemplo, foram 4 anos para se ter a definição das regras do Protocolo de Quioto.
É possível acompanhar no site da Convenção (UNFCCC.int) o status de ratificação do Acordo. Atualmente 109 países assumiram compromissos de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa e de adaptação à mudança do clima.
O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas está participando da COP22 e organizou dois eventos: “mudanças climáticas e cidades”, realizado no dia 08 de novembro, que apresentou os principais resultados do Relatório Especial Mudanças Climáticas e Cidades, lançado durante o evento e pontos importantes do Relatório “Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras brasileiras às mudanças climáticas que será lançado no primeiro semestre de 2017.
O segundo evento ocorreu no dia 11 de novembro, no Espaço do Brasil na COP22, e promoveu uma discussão com especialistas, representantes de governos, sociedade civil e empresas sobre o tema do futuro relatório especial do PBMC “Mapa de Tecnologias Disruptivas de Baixo Carbono”, que deverá ser finalizado no segundo semestre de 2017.
Por Suzana Kahn - Presidente do PBMC e Professora da Coppe/UFRJ, e Andrea Santos - Secretária Executiva PBMC.
Na próxima semana, os professores da Coppe/UFRJ Emilio La Rovere e Roberto Schaeffer, ambos do Programa de Planejamento Energético (PPE), apresentarão estudos na Conferência Quadro das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP 22), em Marrakesh, Marrocos, que está sendo realizada, de 8 a 18 de novembro. No dia 15, às 18h (hora local), o professor Emílio apresentará, no Espaço Brasil, a política municipal de Adaptação à Mudança do Clima da cidade do Rio de Janeiro, resultante de parceria entre a Coppe e a Prefeitura. O professor Schaeffer apresentará o projeto CD-Link: Linking Climate and Development Policies (Articulando Políticas de Clima e Desenvolvimento) no dia 17, às 15h (em horário de Brasília, 13h), na Sala Pacífico. No dia seguinte 18/11, Schaeffer abordará as oportunidades de mitigação de emissões de gases de efeito estufa para o período de 2020 a 2050, em setores-chaves da economia brasileira, às 10h40 (hora local), no Espaço Brasil.
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Além das metas, almeja-se o crescimento sustentável do país
Após a ratificação do Acordo de Paris, celebrado por muitos, ocorre até sexta-feira, em Marrakech, a 22ª Conferência das Partes sobre Mudança do Clima (COP22), que discute a implementação do referido acordo e o plano de ação dos países signatários. Apesar da incerteza gerada com a eleição de Donald Trump, as delegações continuam negociando as regras que nortearão o Acordo, baseando-se na suposição de que não há espaço para retrocesso.
O Brasil apresentou suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa, que possivelmente cumprirá com facilidade. No entanto, o que se almeja não é simplesmente a redução das emissões, pois uma recessão é capaz de dar conta de nosso compromisso, mas, sim, o desenvolvimento sustentável do país. Uma das formas é através de inovação da indústria, aumentando seu valor agregado, gerando empregos qualificados e expandindo a receita, devido à maior independência tecnológica. É importante destacar que a inovação deve ser entendida como um processo com três fases fundamentais.
A primeira está associada ao avanço do conhecimento científico e a segunda, à transformação da ciência, fase de laboratórios, protótipos, experimentos, ainda na órbita dos institutos de pesquisa e universidades. A última fase é a de produção de algo inovador, incluindo projeto básico de engenharia, testes de verificação e validação, design, licenciamento e colocação no mercado. É exatamente aí que o Brasil estaciona. Há uma grande distância entre inovação na indústria e conhecimento científico. Nossas universidades e centros de pesquisa têm toda a capacidade de chegar à segunda etapa do processo. Dessa forma, o primeiro passo para desenharmos o plano de ação do cumprimento do Acordo de Paris é criarmos um canal entre os “produtores de ciência” e aqueles que devem “consumi-la”.
Apenas para ilustrar este ponto, tomemos a energia eólica, que aumenta sua participação em todo o mundo, inclusive no Brasil. Isso ocorre por causa do desenvolvimento tecnológico, ganho de escala e valorização das renováveis em substituição aos combustíveis fósseis. O Brasil atraiu inúmeras indústrias de aerogeradores, mas que são, em geral, montadoras com produção local apenas de algumas partes predominantemente pesadas ou de grande volume, como pás e torres. Com isso, essas indústrias atendem a critérios de índice de nacionalização baseados em peso, mas não em valor. As demais partes, com maior valor tecnológico agregado, ainda são importadas, criando forte dependência tecnológica.
Vale lembrar que uma das metas do Brasil no Acordo de Paris é o aumento da participação de renováveis em nossa matriz energética, o que sinaliza o crescente mercado nacional para essa indústria. Inúmeros eixos de desenvolvimento de uma indústria inovadora são possíveis e estratégicos para o país, independente de nossas metas de redução de emissão. Como na COP22 se inicia o processo para desenhar um plano de desenvolvimento de longo prazo para o país, é oportuno que haja uma sincronia de políticas nacionais visando à construção de uma ponte entre as competências das universidades e dos empreendedores, pequenos ou grandes. Só assim, para além de Marrakech, por volta de 2030, poderemos ser um país com menor emissão de carbono, desenvolvido e com indústria inovadora.
Suzana Kahn é presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas
Fonte: O Globo
Temperatura em 2016 atingirá índice histórico, diz Organização Meteorológica Mundial
A dobradinha formada por aquecimento global e pelo fenômeno El Niño aproxima o planeta de uma marca histórica. O mundo muito provavelmente voltará a bater o recorde de temperatura, com uma média de 1,2 grau Celsius superior ao nível da era pré-industrial. Se a previsão for confirmada, como indica a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o século XXI será palco de 16 dos 17 anos mais quentes desde o início dos registros, em 1880. Segundo o relatório divulgado ontem pela OMM na Conferência do Clima em Marrakesh (COP-22), no Marrocos, o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, somado ao acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera fará 2016 desbancar o recorde de calor de 2015. Secretário-geral da OMM, Petteri Taalas enumera alguns estragos provocados pela ascensão descontrolada dos termômetros. Em setembro, a calota polar do Ártico atingiu sua segunda menor extensão, segundo medições de satélite. O aquecimento dos oceanos aumentou em 50% a mortandade de corais da Grande Barreira de Corais da Austrália. Ondas de calor e inundações
tornaram-se mais frequentes. — Outro ano. Outro recorde — lamenta Taalas. — O calor extra oriundo deste poderoso El Niño desapareceu. Mas o calor provocado pelo aquecimento global continuará. Já uma equipe de pesquisadores da Universidade de East Anglia, do Reino Unido, levou ao Marrocos uma boa notícia: em 2015, o mundo conseguiu, pelo terceiro ano consecutivo, manter estáveis suas emissões de dióxido de carbono (CO2) —o maior “vilão” do aquecimento global.
Foram liberadas para a atmosfera 36,3 gigatoneladas de CO2 no ano passado, apenas 0,2% a mais do que em 2014. Um dos principais motivos seria o aumento do investimento em energias renováveis pelo governo chinês. Climatologistas cogitam que o planeta pode estar se aproximando do pico das emissões — o desafio, a partir de agora, é conseguir baixá-las. — É como se fosse um obeso cumprindo uma dieta. Ele pode parar de engordar, mas ainda precisa queimar gordura — compara José Marengo, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). — Agora é necessário estudar técnicas para retirar os poluentes da atmosfera. Uma delas seria implementar um programa mundial de reflorestamento, mas antes devemos estudar se o armazenamento de uma quantidade imensa de carbono pode desestabilizar o solo. — Se não atingimos o pico de emissões, devemos estar próximos — avalia Suzana Kahn, coordenadora executiva do Fundo Verde e presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro para Mudanças Climáticas. — Nunca a energia renovável representou um percentual tão significativo na matriz energética mundial. Os investimentos estão migrando da energia fóssil para as renováveis, como a solar e a eólica, cujo custo caiu centuadamente na última década. Os cientistas, porém, enfatizam que a estabilização das emissões não corresponde ao cumprimento das metas do Acordo de Paris, elaborado na capital francesa, no encerramento da COP-21. O documento estabelece como objetivo manter o aumento da temperatura do planeta em, no máximo, 2 graus Celsius em relação à era pré-industrial. Até agora, 109 países, responsáveis por 76% das emissões globais, já ratificaram o documento. Entre eles figura os EUA, mas o presidente eleito Donald Trump está disposto a abandonar a iniciativa. De acordo com uma fonte ligada à equipe de transição de Trump para energia e políticas sobre o clima, foi uma “imprudência” pôr o Acordo de Paris em vigor antes das eleições. O presidente eleito considera o aquecimento global uma “farsa” inventada para frear o crescimento econômico americano, e estaria avaliando a assinatura de uma medida invalidando a adesão do país, que responde por 18% das emissões globais, ao documento. Chefe negociador dos EUA na COP-22, Jonathan Pershing assegura que o país continuará combatendo as mudanças climáticas. Segundo ele, a maior preocupação em Marrakesh é estabelecer prazos e compromissos precisos para que o Acordo de Paris possa ser aplicado a partir de 2020. —Os chefes de Estado podem mudar, e mudarão, mas tenho certeza de que podemos manter, e que manteremos, um esforço internacional durável para neutralizar as mudanças climáticas — destaca Pershing, que, no entanto, ainda não teve contato com a equipe de transição de Trump. — A questão (agora) já não é saber se a aplicação do acordo será acelerada, mas quando e como.
Para André Nahur, coordenador interino de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, a eventual saída dos EUA do acordo não deve desestimular outros signatários: — O governo chinês e vários outros países já manifestaram que seguirão seus compromissos. Os EUA são o terceiro maior empregador no setor de energias renováveis no mundo. Trump terá que reconhecer que, para manter a economia de seu país e o bem-estar da população, precisará lidar com as mudanças climáticas. — Não creio que algum país pule do barco, pois o custo político seria enorme — comenta Suzana Kahn. — O que está em jogo são os interesses econômicos. A China tem todo o interesse em ver o Acordo de Paris avançar, uma vez que ela é líder no mercado de energia renovável. Os EUA não deverão sair do acordo, mas poderão dificultar a definição de suas regras e postergar a data em que entrará em vigor.
US$ 520 BILHÕES EM PERDAS POR ANO
Um relatório publicado ontem pelo Banco Mundial dá uma razão significativa para apressar os negociadores. De acordo com a instituição, as catástrofes naturais provocam um prejuízo de US$ 520 bilhões e mergulham na pobreza cerca de 26 milhões de pessoas por ano. A nova avaliação é superior em 60% aos cálculos habituais das Nações Unidas, que estimam as perdas em US$ 300 bilhões. A diferença ocorre porque, além de calcular os danos materiais — vistos, por exemplo, em moradias, infraestrutura e meios de transporte —, o documento também considera como um desastre natural afeta o “bem-estar”, alterando gastos com alimentação, educação e saúde, sobretudo para a população menos favorecida.
Fonte: O Globo