Documento foi assinado por 197 países e é visto como importante esforço global
BRASÍLIA e RIO - O governo brasileiro participou ativamente das negociações em Ruanda do acordo que visa à eliminação progressiva dos hidrofluorocarbonos (HFC) - um dos gases do efeito estufa considerados muito nocivos para o clima - assinado por cerca de 200 países neste sábado, em Kigali. Juridicamente vinculante, o acordo de Kigali supõe um passo importante na luta contra o aquecimento climático e permite dar um sinal positivo a menos de um mês da próxima grande conferência anual sobre o clima, a COP 22, em Marrakesh (Marrocos).
Segundo o secretário de Mudanças Climáticas do Ministério e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Everton Lucero. Ele explicou que o Brasil trabalhou para que a emenda sobre a redução dos gases de efeito estufa fosse ao mesmo tempo ambiciosa e factível para a indústria. A delegação brasileira estava representada por integrantes de seu ministério - que oferece os subsídios técnicos - e também do Itamaraty, que é a parte negociadora.
- Houve um espírito construtivo para contribuir e chegar a uma emenda que fosse ambiciosa e correspondesse às necessidades e possibilidades da nossa indústria. Fizemos uma consulta direta com o setor que utiliza esses gases para ver o que era viável. E chegamos a uma emenda, além de ambiciosa, viável e factível de ser executada - disse Everton Lucero ao GLOBO.
O secretário explicou que os gases HFC são usados na refrigeração, desde o tipo aberto, utilizado nos supermercados, nos aparelhos de ar-condicionado e nas geladeiras dos consumidores. Lucero explicou que o Brasil é um país consumidor desses gases, e não produtor. E o acordo prevê uma ajuda financeira dos países produtores aos compradores do HFC.
- Tinha também essa preocupação financeira, de não onerar nossa indústria com a substituição. Somos consumidores em desenvolvimento e vamos receber esse aporte financeiro para a substituição - disse.
Segundo o secretário, existe a viabilidade técnica de trocar o HFC por um substituto tecnicamente analisado e que já está comprovado que não causa efeito no clima:
- Estamos contribuindo com um esforço global. E ocorrendo esse equacionamento, da substituição com apoio financeiro, não teremos problema. Mas o processo industrial terá que ser adequado e leva tempo fazer esses projetos e troca de equipamentos. Como nossa negociação prevê essa troca será feita até 2024.
De acordo com a climatologista Susana Kahn, vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o acordo não traz grandes mudanças para a indústria brasileira, que já vinha se adaptando às exigências de redução do HFC em seus refrigeradores e condicionadores de ar.
— Não vejo uma mudança significativa, pois já estávamos retirando o HFC. Na verdade, a indústria tem interesse em substituir esses gases industriais que estimulam o aquecimento. E não é uma questão muito complicada. — diz ela. — O problema maior é substituir o CO2 e gases de fonte energética, que estão na base da economia.
ITAMARATY COMENTA ACORDO
O Itamaraty comentou, em nota, a aprovação do protocolo e informou ainda que a decisão irá beneficiar centenas de empresas brasileiras. "Em 2015, o Brasil copresidiu as consultas que levaram ao início formal das negociações. Ao longo de todo processo, o governo manteve intenso diálogo com a sociedade em geral e com o setor privado em particular. Em Kigali, a delegação brasileira, integrada por representantes do Itamaraty e do Ministério do Meio Ambiente, defendeu uma emenda ambiciosa e trabalhou para construir consensos em torno de propostas comuns que levaram ao acordo final" - diz o Itamaraty, na nota.
O governo brasileiro lembra que o compromisso prevê cronogramas diferenciados de redução do consumo para países desenvolvidos e que utilizam os HFCs há mais tempo, e países em desenvolvimento. "Sua concretização prevenirá emissões de gases de efeito estufa à atmosfera, fortalecerá o combate à mudança do clima e contribuirá para que se alcancem os objetivos do Acordo de Paris sobre mudança do clima. A implementação dos compromissos pelos países em desenvolvimento será apoiada por recursos do Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal. Isso beneficiará diretamente centenas de empresas brasileiras, que poderão contar com apoio financeiro para seus processos de reconversão tecnológica".
OBAMA CELEBRA ACORDO
"No ano passado, em Paris (durante a COP21), prometemos proteger o mundo dos piores efeitos da mudança climática", afirmou o diretor do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Erik Solheim, citado em um comunicado. "Hoje honramos esta promessa".
O HFC foi introduzido nos anos 1990 para substituir produtos químicos, que haviam sido banidos por causar o buraco na camada de ozônio, mas revelaram-se catastróficos para o aquecimento global. A eliminação dos HFC, usados em geladeiras, frigoríficos e aparelhos de ar condicionado, no entanto, é um tema espinhoso para países em desenvolvimento, como a Índia. Trocar HFCs por refrigerantes alternativos, como amônia, água ou hidrofluorolefinas (HFO) pode custar caro. Foram requisitadas várias reuniões bilaterais na sexta, inclusive com a participação do secretário de Estado americano, John Kerry, para desbloquear as conversações. Por fim, o acordo foi celebrado como "ambicioso" pelo presidente Barack Obama.
Fonte: O Globo
O Acordo de Paris sobre Mudança do Clima deverá se tornar lei internacional no dia 7 de novembro deste ano, menos de um ano após ter sido definido na COP21 de Paris, em 2015. Trata-se da mais rápida ratificação da história da ONU. Para efeito de comparação, o Protocolo de Quioto levou sete anos para entrar em vigor. Para Jill Duggan, diretor do Grupo de Líderes Corporativos do Príncipe de Gales, “a velocidade sem precedentes que está impulsionando a rápida entrada em vigor do Acordo de Paris mostra a enorme importância do desafio climático para os governos em todo o mundo, apesar da turbulência política que emergem em muitas economias. A importância do Acordo de Paris e seu impacto universal não podem ser subestimados. A transição para uma economia de carbono zero é inevitável. Agora é o momento para as empresas comecem a se preparar para um futuro de carbono zero”. Para se tornar lei internacional, o Acordo de Paris teve que cumprir duas condições: ser ratificado por mais de 55 países e que estes respondam por mais de 55% das emissões globais dos gases que causam o efeito estufa. Por isso, o Acordo de Paris previa um prazo até 2020 para sua entrada em vigor. Mas este segundo requisito será preenchido nesta sexta, 7 de outubro, quando a União Europeia depositará seu instrumento de ratificação do acordo na sede da ONU, em Nova York. Para Alden Meyer, diretor de Estratégia e Política da Union of Concerned Scientists dos Estados Unidos, “O fato de que o Acordo de Paris está tendo efeito muito mais cedo do que antecipado mostra que os líderes entendem a necessidade de ação coletiva para enfrentar a ameaça crescente do clima. O anúncio conjunto, feito do mês passado pelos EUA e pela China, que se juntaram ao acordo, claramente estimulou outros países a acelerarem os seus processos internos. Embora este marco seja certamente motivo de celebração, muito está por vir. Os países devem agora avançar agressivamente para implementar e reforçar os seus compromissos de redução de emissões no âmbito do acordo, se quisermos ter alguma chance de evitar os piores impactos das mudanças climáticas “. “Fortalecidos pelo apoio de cidades, empresas e investidores, em dezembro último líderes mundiais agiram em nome dos seus cidadãos e no interesse de cada um de nós neste planeta quando concordaram, por unanimidade, em dissociar o crescimento global de emissões de gases de efeito estufa. Essa foi a etapa do ‘Nas suas posições, preparem-se’. Nós agora temos o nosso sinal de partida – este é o “já” em direção a um futuro de baixo carbono. Um futuro que vai ser emocionante: acabar com o domínio dos combustíveis fósseis vai gerar uma abundância de inovação e oportunidades para todos nós. Nós podemos conquistar um ar mais limpo, cidades mais saudáveis e um novo tipo de revolução ‘industrial’ apoiada por tecnologias que nos permitem viver uma vida próspera dentro dos limites que nosso planeta pode sustentar”, declarou Christiana Figueres, ex-secretária executiva da UNFCCC. Para conseguir isso, Christiana aponta que “agora temos de aumentar a nossa ambição para garantir o legado deste momento seja selado como um ponto de pivô positivo na história. Um número crescente de pessoas comprometidas querem garantir que, juntos, nossos líderes, comunidades, cidades, empresas e cidadãos podem realmente dobrar a curva sobre as emissões do aquecimento global. Com a colaboração radical e otimismo ilimitado, sob a iniciativa Mission 2020, temos o compromisso de acelerar avanços materiais na economia global que gerem um mundo com clima seguro e desenvolvimento para todos”. Para Renato Redentor Constantino, Diretor Executivo do Instituto do Clima e Cidades Sustentáveis das Filipinas, “devemos usar a entrada em vigor do Acordo de Paris para fortalecer ainda mais a nossa determinação para uma ação mais rápida e mais decisiva para reduzir os gases de efeito estufa e limitar o aquecimento global para menos de 1,5°C. É temporada de tufões novamente nas Filipinas, e o 3° aniversário do tufão Haiyan que se aproxima nos lembra dos impactos devastadores de uma ação medíocre. Nós vemos o que os governos podem alcançar juntos se houver vontade política, mas não devemos esquecer que ainda temos de implementar medidas agressivas para mudar para um sistema de energia limpa e liberar financiamento para proteger os mais vulneráveis do agravamento dos impactos climáticos. Precisamos de uma ação orquestrada e rápida, em nível mundial e dentro de um calendário ambicioso para reduzir os gases de efeito estufa. É igualmente importante que os governos, as empresas e a comunidade científica mudem a narrativa do clima: do ponto de desespero para uma mensagem de esperança de que um futuro próspero e sustentável é viável se adotarmos a ação decisiva agora”. “A velocidade com que o Acordo de Paris entrou em vigor foi notável. Mas agora precisamos ver ações concretas para seguir com a mesma rapidez”, declarou Mohamed Adow, Consultor Sênior sobre Clima, Christian Aid. “À medida que o furacão Matthew deixa destruição por todo o Caribe, somos lembrados que o nosso clima continua a passar por mudanças rápidas e que continuamos a poluir a atmosfera. O Acordo de Paris foi como um avanço em um centro de reabilitação. Os líderes mundiais admitiram pela primeira vez que tinham um problema de dependência dos combustíveis fósseis e que iriam se limpar. A questão agora é se eles perseverarão neste novo caminho ou se desistirão na primeira decisão difícil. Como um viciado saindo das drogas, eles precisam se afastar de verdade da substância prejudicial. Sua atitude m relação às promessas do Acordo de Paris será testado nos próximos dias. É imperativo que eles concordem com uma redução global dos gases de efeito estufa HFCs em Ruanda na próxima semana”.
Fonte: Proclima
Com a crescente adesão de países, a ratificação do Acordo de Paris está prestes a virar realidade. E, para cumprir as metas de redução de emissões de carbono, uma verdadeira revolução energética será necessária, com redução drástica no consumo de combustíveis fósseis. Embora o avanço das fontes renováveis seja notável, indicando que já estamos vivemos uma transição energética, o jogo ainda conta com pesadas forças que atuam pela manutenção do business as usual. O Brasil pode se tornar um grande protagonista dessa transição, mas parece acomodar-se na ideia de que sua matriz energética já é “limpa”. A despeito do enorme potencial para as renováveis, há quem veja o País hoje como um mero comprador para empresas estrangeiras que atuam nesse segmento. Com isso, o Brasil não desperdiça apenas a oportunidade de liderar esse mercado: está deixando de protagonizar o que vem sendo chamado de Antropoceno 3.0 – uma nova etapa da época geológica em que o impacto humano sobre a Terra passa a ser inteligentemente manejado, adotando uma economia cada vez mais circular e usando fontes renováveis e mais limpas. Se houver pressão da sociedade, ainda há tempo de caminhar nessa direção.
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O ano de 2016 está quase consolidado como aquele em que a concentração de dióxido de carbono no globo ultrapassou oficialmente a barreira simbólica de 400 partes por milhão. Valores diários e semanais da medição do Observatório do Mauna Loa (Havaí) durante setembro, mês característico por ser um dos mais baixos em concentração de CO2, têm se mantido acima de 400 ppm, e cientistas preveem que devem finalizar o mês em 401 ppm. Os valores de setembro costumam estar entre os mais baixos do ano devido ao crescimento de plantas que, na primavera e no verão do hemisfério Norte, auxiliam na absorção do gás ao fazer fotossíntese. Já no outono (estação que começa em setembro no norte do planeta), pico sazonal do ciclo, as mesmas plantas perdem suas folhas, que se decompõem e liberam o carbono absorvido para a atmosfera.
De acordo com Ralph Keeling, cientista do Instituto Scripps de Oceanografia, responsável por medir a variação na concentração do principal gás de efeito estufa no Mauna Loa, evidências das últimas duas décadas apontam que os níveis de concentração até podem diminuir em outubro, mas não o suficiente para que fiquem abaixo de 400 ppm. E, até novembro, quando o ciclo retorna a valores tradicionalmente mais elevados, a previsão é de um novo recorde e uma possível quebra de outra barreira: a de 410ppm. “É possível que vejamos breves retornos a valores mais baixos, mas parece seguro concluir que não veremos um valor mensal abaixo de 400 ppm neste ano, ou novamente por um futuro indefinido”, escreveu Keeling no site do instituto.
A informação é preocupante: nos últimos 800 mil anos, os níveis de concentração jamais ultrapassaram 280 a 300 ppm, tendo atingido 400 ppm pela primeira vez no ano de 2013, durante o pico sazonal do outono. Em 2015, o planeta fechou o ano com valores de 400,9 ppm. Trazendo estes números para a realidade de nossa rotina, eles representam um aumento cada vez maior no aquecimento do planeta. Modelos climáticos sugerem que atingir algo em torno de 550 ppm faria o planeta esquentar 3 graus Celsius. Nem precisamos ir tão longe: para manter a temperatura em limites nos quais a humanidade possa se adaptar, é preciso limitar a concentração a, no máximo, 450 ppm.
Fonte: Observatório do Clima