Uma das maiores autoridades do mundo em mudanças climáticas, o climatologista brasileiro Carlos Nobre alerta, em entrevista à DW, que os efeitos do aquecimento global estão superando modelos previstos pelos cientistas.
Fenômenos climáticos extremos como os que têm acontecido nesta década eram esperados só após 2030
O Brasil já enfrenta problemas climáticos severos diretamente relacionados ao aquecimento global do planeta e justamente na Amazônia – o maior cartão postal ambiental do país. A análise é do cientista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas climáticos do mundo, que fala nesta sexta-feira (24/06) sobre o tema no seminário "Crise Hídrica no Brasil – Ontem, Hoje e Amanhã", organizado em parceria pelo Museu do Amanhã e o Projeto #Colabora.
Em entrevista à DW Brasil, Nobre falou sobre as influências do aquecimento global na grande seca de 2014 no Sudeste e também nos eventos extremos registrados nos últimos anos na Amazônia. Segundo o especialista, a resposta do planeta às mudanças climáticas está sendo mais intensa do que o previsto pelos modelos elaborados por pesquisadores.
DW Brasil: Até que ponto a crise de recursos hídricos vivida recentemente no Brasil – sobretudo com a seca no Sudeste em 2014, que levou os reservatórios aos níveis mais baixos – está diretamente relacionada às mudanças climáticas do planeta?
Carlos Nobre: Temos períodos de seca por razões que independem das mudanças climáticas. Mas o impacto de uma a seca similar (digamos, com 50% menos de chuva) há cem anos é diferente do de hoje, num planeta em que a temperatura já está um grau mais alta. Hoje, por conta disso, a evaporação da água é mais acelerada – isso é uma realidade em vários lugares do mundo. Então, o déficit de chuva pode ser o mesmo, mas o déficit de água no solo é maior. Este já é um efeito direto do aquecimento global, independentemente de não termos certeza absoluta de que o aquecimento já esteja induzindo a mais secas ou secas mais intensas. De qualquer forma, esse é um cenário previsto para as mudanças climáticas, o de extremos: secas mais intensas e chuvas mais intensas.
Já existe algum lugar no Brasil onde esse cenário de extremos por conta do aquecimento já esteja ocorrendo?
Um lugar onde as pesquisas já indicam com alguma certeza científica uma mudança no regime de extremos é a Amazônia, onde, nos últimos onze anos (desde 2005) tivemos três secas severas e três inundações. Sendo que pelo menos duas dessas secas e duas dessas inundações foram recordes absolutos nos últimos cem anos, desde que temos registros precisos para a região. Então essa alternância de extremos secos e chuvosos pode já ser uma manifestação precursora do aquecimento global na Amazônia.
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