Limitar o aquecimento global em 1,5°C é um tremendo desafio, mas de enfrentamento ainda possível, segundo a ciência climática. A limitação do aquecimento traria muitos cobenefícios e custaria muito menos do que a posterior remediação dos danos. Analisamos aqui o que precisa ser feito em cada setor da economia responsável pelas emissões de gases de efeito estufa para que esta limitação seja possível.
Em 2015, quando os governos de todo o mundo adotaram o Acordo de Paris pelo clima do nosso planeta, solicitaram aos cientistas do IPCC uma análise dos impactos que a humanidade sofreria caso o aquecimento global chegasse a 1,5°C e, também, uma análise das maneiras pelas quais seria possível aos países cumprir a meta de manutenção do aquecimento global abaixo desta temperatura.
Pois bem, os milhares de cientistas de todo o mundo reunidos no IPCC entregaram estas análises em outubro de 2018, em um relatório especial que busca responder (i) quais são os impactos de um aquecimento global de 1,5oC e de um aquecimento de 2oC? O que é necessário para limitar o aumento da temperatura em 1,5oC? E quais são os trade-offs com as metas de desenvolvimento sustentável da ONU?
Tentamos aqui sintetizar as ações que precisam ser feitas em cada setor para que o aquecimento global não ultrapasse os 1,5oC. Esta não é uma síntese do relatório do IPCC, mas somente uma guia para sua compreensão. O Sumário para Formuladores de Políticas do relatório do IPCC pode ser lido aqui.
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Nesta segunda-feira, 08 de outubro, foi divulgado o novo relatório especial do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) – “Aquecimento Global a 1,5°C” –, cujos cenários antecipam as consequências que o mundo enfrentará caso não consigamos limitar o aumento da temperatura média global a 1,50C.
Considerando o que nos informa a ciência climática e usando o princípio da precaução estabelecido na Convenção do Clima das Nações Unidas (COP), teremos que reduzir significativamente nossas emissões de gases de efeito estufa (GEE) até meados do século. Já estamos em limites perigosos do aumento de temperatura observado desde a época da Revolução Industrial. O relatório recentemente lançado fornece números que justificam o aumento da ambição dos compromissos assumidos pelos países signatários do Acordo de Paris.
Previsto se tornar operacional em 2020 – com a primeira revisão dos compromissos nacionais cinco anos depois – o Acordo de Paris foi aprovado na COP21 em 2015. O documento contempla o esforço para não ultrapassarmos o limite de 1,50C de aumento de temperatura em 2100. Este é um limite seguro – mas a probabilidade de o atingirmos é baixíssima.
Já atingimos o aumento de 10C de temperatura em relação ao período pré-industrial, e nada indica que vamos conseguir desacelerar o nível de emissões de gases de efeito estufa na velocidade necessária para atingirmos a meta de 1,50C até o final do século.
É fato que houve aumento da geração de energia renovável. Desde 2008, o aumento foi de 18% no âmbito dos países do G20, que representam 75% das emissões em termos mundiais. Porém, esses mesmos países continuam mantendo os subsídios a combustíveis fósseis, dificultando a maior penetração das fontes de energia renovável. Todos esses elementos indicam que vamos ultrapassar o limite seguro de aumento de temperatura. Então, qual a razão para avaliarmos os cenários de 1,50C?
Uma das razões é de que um maior entendimento do que poderá acontecer, caso a temperatura do planeta supere os 1,50C, ajudará a guiar políticas e inciativas para minimizar os danos inevitáveis. Também será útil no estabelecimento do melhor equilíbrio entre as opções de mitigação e adaptação. Outro aspecto relevante será o de direcionar pesquisas sobre os impactos que ocorrerão acima desse aumento de temperatura, seja na biodiversidade ou nas populações ou ainda na economia mundial.
Há também a hipótese – otimista – de ainda ser possível se atingir esta ambiciosa meta. A modelagem climática se sofistica continuamente, oferecendo níveis cada vez maiores de segurança nas projeções. Apesar disso, é importante lembrar que, por vezes, se negligencia um maior entendimento dos caminhos que nos levam a um determinado padrão de emissão de gases de efeito estufa, comprometendo os resultados que os modelos entregam.
Os cenários futuros de emissões de carbono – usados para os cálculos tanto das concentrações de gases ao longo do século como para avaliar o potencial de redução de emissões nacionais no médio e longo prazo – tendem a projetar um futuro similar ao que se tem no presente. Considera-se alguns ajustes de melhorias de eficiência, assim como introdução e/ou aumento de participação de algumas tecnologias já conhecidas no mercado. Não se leva em conta as rupturas tecnológicas e diferentes padrões de consumo, que poderão alterar profundamente a projeção das emissões de carbono. A avaliação de tecnologias e práticas de baixo carbono que possam promover esta ruptura e suas consequências é uma lacuna no nosso conhecimento do tema.
Esta lacuna evidencia a importância de se mapear as possíveis áreas onde rupturas tecnológicas ou de comportamento poderão ocorrer alterando os cenários de gases estufa. Setores como a indústria, transporte e geração, transmissão, armazenagem e uso de energia elétrica renovável têm condições de apresentar mudanças radicais. A sociedade também pode alterar seu padrão de consumo, sobretudo no que se refere a dieta alimentar. Assim, somamos às incertezas climáticas as incertezas de nossas emissões. Quem sabe se a resultante dessas incertezas será o aumento de apenas 1,50C?
Seja com um olhar otimista ou realista, o recente relatório especial do IPCC reforça a importância da ciência, tecnologia e inovação como ferramenta essencial na construção de um caminho de baixo carbono.
Artigo Originalmente postado em Museum do Amanha
No Fim do ano ocorrerão duas conferências internacionais, nas quais o Brasil usualmente tem protagonizado: a 14ª Conferência das Partes (COP) de Biodiversidade e a 24ª Conferência das Partes (COP) sobre mudanças climáticas. Apesar de os temas serem correlatos, pouca sinergia existe entre as COPs, e raramente o que nelas se discute é incorporado em nossa agenda econômica.
O Brasil, no entanto, é o País que mais teria a ganhar, no médio e longo prazos, caso atentasse para suas potencialidades de país mais megadiverso do mundo, abrigando seis diferentes biomas (Amazônia, Pantanal, Cerrado, Pampa, Mata Atlântica e Caatinga) e nível de emissão de gases de efeito estufa per capital ainda baixos, com várias alternativas de energia renovável.
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O mundo está a caminho de estourar as metas do Acordo de Paris, com o aquecimento do planeta podendo chegar a 3°C no fim deste século, e isso pode ser devastador para alguns ecossistemas, enquanto que a consequente a elevação do nível do mar poderá inundar muitas grandes cidades e alguns países inteiros, alerta o mais recente o relatório das Nações Unidas.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), das Nações Unidas, composto por 91 cientistas e que se reuniu na semana passada em Incheon, na Coreia do Sul, concluiu que a Terra está 1°C mais quente desde o período pré-industrial e provavelmente vai esquentar mais 2°C na virada deste século, se não houver mudanças nas políticas atuais.
O relatório do IPCC é visto como o principal guia científico para os formuladores de políticas dos governos sobre como implementar o Acordo de Paris de 2015 - que tem como objetivo limitar a elevação da temperatura média global a "bem abaixo" de 2°C acima dos níveis pré-industriais, enquanto tenta reduzir a meta para 1,5°C.
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