Eventos climáticos extremos deverão tornar-se mais frequentes e intensos com a mudança do clima. Neste contexto, as cidades brasileiras necessitam ser planejadas estrategicamente, de forma a priorizar investimentos e medidas de adaptação frente às mudanças climáticas, com foco na redução de riscos e minimização dos impactos ocasionados pelos eventos extremos como inundações, deslizamento de terra, tempestades e erosão em zonas costeiras.
A mudança climática pode afetar as cidades de forma variada, em especial as áreas costeiras. As cidades litorâneas são sensíveis ao aumento do nível do mar, mudanças na frequência e intensidade das tempestades, ao aumentos na precipitação e na temperatura dos oceanos. Além disso, o aumento das concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2) está tornando os oceanos mais ácidos, gerando impactos significativos sobre os ecossistemas costeiros e marinhos.
Promover uma discussão com especialistas, pesquisadores, tomadores de decisão e a sociedade civil sobre as vulnerabilidades das cidades brasileiras frente às mudanças climáticas. O Primeiro Relatório de Avaliação do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) aponta lacunas nas áreas do conhecimento sobre os riscos e medidas de respostas das cidades aos eventos climáticos extremos. Com base nisso, o PBMC está organizando o Relatório “Zonas costeiras das cidades brasileiras às mudanças climáticas”, que tem como objetivo apresentar o estado da arte sobre o tema e fornecer subsídios para o Plano Nacional de Adaptação e políticas sobre mudança do clima.
Workshop “As Mudanças Climáticas e as Cidades Brasileiras” - Parceira PBMC e CETESB
Data: 22/06/2016 – quarta-feira.
Horário: 09:00 – 12:00h
Local: Auditório da Cetesb – Av. Professor Frederico Hermann Jr 345, Alto de Pinheiros, São Paulo – SP
Reunião de autores – Relatório “Zonas costeiras das cidades brasileiras às mudanças climáticas”, organizado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (Evento fechado)
Horário: 14:00 – 16:00h
Local: Auditório da Cetesb – Av. Professor Frederico Hermann Jr 345, Alto de Pinheiros, São Paulo – SP.
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Ao negligenciar o conhecimento, Brasil acumula 200 anos de atraso
No século XIX, John Stuart Mill argumentava que o avanço científico poderia promover uma revolução na agricultura, que era a grande questão daquela época. A escassez de terras férteis era vista de forma catastrófica por outros pensadores como Thomas Malthus, que cunhou a célebre frase de que “a população cresce em progressão geométrica enquanto que os alimentos em progressão aritmética”. Mill estava correto e de fato, por conta dos avanços tecnológicos proporcionados pelo conhecimento científico, não houve a temida falta de alimentos, uma vez que a produtividade agrícola deu um salto.
De forma similar atualmente também enfrentamos a escassez de recursos naturais e podemos e devemos de novo encarar o avanço científico e a inovação, seja de base tecnológica ou não, como uma importante ferramenta para colocar o mundo no rumo do desenvolvimento sustentável.
Novos produtos, novos processos e novas práticas não aparecem de repente. Eles se baseiam em novos princípios científicos, em concepções originais e esforços coletivos. Portanto, o país que pretende avançar e se desenvolver necessita proporcionar este ambiente criativo e multidisciplinar, uma vez que a inovação não requer apenas cientistas.
Vannevar Bush, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), que, em 1931, criou o primeiro computador analógico, dizia que “uma nação que precisa de outras para novos conhecimentos científicos básicos será morosa em seu progresso”. Esta afirmação mostra a importância das áreas de ciência, tecnologia e inovação no desenvolvimento das nações e melhoria do bem estar da sociedade. Um país com sólida base científica é mais resiliente, apresenta maior produtividade, melhores empregos e mais riqueza.
O Brasil, por não ter tradição na área de ciência e tecnologia, está distante de ser uma sociedade do conhecimento, de atingir seu potencial social e econômico, proporcionando melhor qualidade de vida para a sua população. O problema é que ao neglicenciar este importante capital, que é o conhecimento, aumenta-se a dificuldade de superar as nossas necessidades mais básicas. A visão de curto prazo com que se caracterizam as decisões dos sucessivos governos brasileiros fazem com que o Brasil não evolua, pois o conhecimento científico é um processo contínuo e cumulativo, que, para ser eficiente e eficaz, deve ser incorporado na agenda do planejamento de longo prazo do país.
Temos presenciado o descaso com a área de ciência, tecnologia e inovação no Brasil, o que nos leva a crer que nossos governantes não fazem ideia da importância do desenvolvimento tecnológico frente aos desafios deste século, seja a carência de recursos naturais, seja a redução da capacidade do planeta de absorver tantos impactos ambientais.
Se na Inglaterra do século XIX já havia o reconhecimento da relevância do avanço científico, é inconcebível que o Brasil, no século XXI, ainda não tenha se dado conta de sua importância.
Elton Alisson | Agência FAPESP – Na maioria dos sistemas naturais, como o cérebro, é possível observar fenômenos oscilatórios que envolvem múltiplas escalas de tempo acopladas, como as ondas cerebrais, que ocorrem em ritmos e frequências diferentes.
Em geral, esses ritmos biológicos apresentam uma mudança lenta espontânea dos padrões oscilatórios.
Um grupo de pesquisadores do Instituto de Química da Universidade de São Paulo em São Carlos (IQSC-USP) já havia descrito, em 2010, a existência de um lento processo evolutivo que distorce as oscilações rápidas e culmina na morte das oscilações de um sistema. Agora, o mesmo grupo identificou o efeito exercido pela temperatura sobre esse fenômeno de acoplamento entre escalas de tempo diferentes.
Resultado de um Projeto Temático realizado no âmbito do Programa de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), e de uma pesquisa de doutorado, realizada com Bolsa da FAPESP, o estudo foi publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature.
“Nossas descobertas possibilitam aumentar a compreensão sobre diversos processos que acontecem em escala de tempo acoplada”, disse Hamilton Varela, professor do IQSC-USP e um dos autores do estudo, à Agência FAPESP.
Os pesquisadores usaram a reação de eletro-oxidação de ácido fórmico em platina como modelo para estudar o efeito da temperatura sobre a dinâmica lenta e rápida acopladas.
O sistema, composto por um frasco de vidro com um eletrodo de platina de 0,2 centímetro quadrado (cm2), mergulhado em uma solução de ácido sulfúrico diluído em água e um pouco de ácido fórmico, funciona como uma célula eletroquímica – em que a eletricidade controla reações químicas.
A eletricidade aplicada no eletrodo desencadeia uma reação eletroquímica em que o ácido fórmico – cujas moléculas contêm um único átomo de carbono, dois de oxigênio e dois de hidrogênio (HCOOH) –, se liga temporariamente à platina e, depois de alguns passos intermediários, libera gás carbônico (CO2), que reveste o eletrodo de platina.
Essa reação eletroquímica é considerada um ótimo modelo para estudar aspectos fundamentais da eletrocatatálise de moléculas orgânicas pequenas que são de interesse para o desenvolvimento de sistemas de conversão de energia, como células de combustíveis a baixa temperatura – que convertem energia química em energia elétrica e são utilizadas, por exemplo, na propulsão de veículos.
Além disso, também é tida como um bom modelo para estudar a dinâmica lenta e rápida acopladas porque oscila de forma autônoma com o passar do tempo como um sistema vivo, explicou Alana Zülke, uma das autoras do artigo, que realizou doutorado com Bolsa da FAPESP sob orientação de Varela.
"O interessante é que conseguimos observar em laboratório, em um ambiente não-biológico, um aspecto comum em organismos vivos com termoregulação [regulação de temperatura]. E, fazendo uso de sistemas eletroquímicos simples obtivemos pistas interessantes sobre o funcionamento de sistemas complexos e dos mecanismos envolvidos na compensão de temperatura", afirmou Zülke.
Efeito da temperatura
O grupo de pesquisadores do IQSC-USP já havia descoberto, em 2009, que essa reação eletroquímica apresenta um comportamento de compensação de temperatura externa também observado em sistemas vivos.
Ao contrário do que ocorre comumente em outras reações, em que ao aumentar a temperatura em 10 ºC a velocidade da reação é multiplicada por um fator entre 2 e 4, isso não ocorre na eletro-oxidação de ácido fórmico em platina.
As etapas intermediárias da reação do ácido fórmico com a platina se acoplam de tal forma que a frequência das oscilações permanece constante quando a temperatura aumenta, disse Varela.
“Esse comportamento é semelhante ao observado em sistemas vivos, como animais de sangue quente, como mamíferos e aves, nos quais os batimentos cardíacos e os ritmos cerebrais se mantêm mais ou menos constantes quando a temperatura ambiente varia dentro de uma determinada faixa porque as redes bioquímicas associadas a esses processos passam a operar de forma a compensar essa variação de temperatura.”, explicou. “Isso foi importantíssimo para a evolução”, avaliou o pesquisador.
Não se sabia, contudo, qual a razão pela qual a reação de eletro-oxidação de ácido fórmico em platina apresenta essa particularidade de compensação da temperatura.
Ao variar a temperatura aplicada na célula eletroquímica em cinco níveis – entre 5 e 45 ºC – medir a frequência das oscilações em cada um desses níveis de temperatura e compará-los, os pesquisadores observaram que ao aumentar a temperatura de 5 para 25 ºC a frequência das oscilações diminui.
Já ao aumentar a temperatura de 25 para 45 ºC, a frequência das oscilação é prolongada. “Observamos completamente por acaso que, a 25 ºC, há uma quebra na frequência de oscilações”, afirmou Varela.
Por meio dessa quebra na frequência de oscilações – que os pesquisadores nomearam como ponto de viragem –, eles conseguiram analisar etapas da reação relacionadas com evoluções rápidas e lentas e identificar uma delas que pode estar relacionada com o comportamento de compensação de temperatura.
“Conseguimos interpretar a dinâmica do processo lento em comparação com o mais rápido e isolar uma etapa que pode estar envolvida com a compensação de temperatura, que é algo muito difícil em uma rede de reações”, disse Varela.
“Pela primeira vez, conseguimos sugerir uma forma de estudar o acoplamento entre escalas diferentes, que pode ser aplicada a outros sistemas para descobrir a dependência de temperaturas em redes químicas complexas”, avaliou.
O artigo “The effect of temperature on the coupled slow and fast dynamics of an electrochemical oscillator” (doi: 10.1038/srep24553), de Zülke e Varela, pode ser lido na revista Scientific Reports em www.nature.com/articles/srep24553.
Fonte: Agência FAPESP
RIO — As mudanças climáticas e a elevação do nível do mar são muitas vezes vistas como algo futuro, mas estudos indicam que esses fenômenos já estão acontecendo. Um deles, publicado semana passada na revista científica “Environmental Research Letters”, mostra que ao menos cinco ilhas do Pacífico já foram engolidas pelo aumento do nível do mar, num alerta do que pode vir a acontecer em regiões costeiras de todo o mundo.
Pesquisadores da Universidade de Queensland, na Austrália, analisaram imagens aéreas e de satélite colhidas entre 1947 e 2014 para analisar o impacto da elevação do nível das águas em 33 ilhas de recife nas Ilhas Salomão. Cinco delas, com áreas que variavam entre 10 mil e 50 mil metros quadrados, estava presentes em 1947, mas desapareceram completamente em 2014.
O país da Melanésia é um dos mais ameaçados pelas variações no nível das águas, e vem sofrendo como poucos pela conjunção dos efeitos das mudanças climáticas e aumento da força dos ventos alísios. Cálculos estimam que o nível do mar na região vem aumentando em média 7 milímetros por ano nas últimas duas décadas.
— É a tempestade perfeita — disse Simon Albert, da Universidade de Queensland e líder da pesquisa, à “New Scientist”. — Existe o pano de fundo do aumento do nível do mar, e a pressão adicional de um ciclo dos ventos alísios que vem empurrando água para o Pacífico Ocidental.
No mundo, a taxa de aumento do nível do mar é de 3 milímetros por ano, mas que deve se acelerar para 7 milímetros até o fim deste século, na medida em que temperaturas mais altas acelerarem o degelo das camadas polares.
— Todas as projeções mostram que na segunda metade do século, o resto do globo vai alcançar taxa de elevação do nível do mar que as Ilhas Salomão estão experimentando — disse Albert.
Outras seis ilhas já perderam para o mar entre 20% e 62% do território durante o período, confirmando histórias contadas pelos nativos. A mais populosa delas, a Nuatambu Island, é lar para 25 famílias, que viram 11 casas serem varridas desde 2011. Além da população humana, espécies animais também estão ameaçadas.
— O isolamento dos predadores que essas ilhas oferecem faz delas habitats críticos para procriação de muitas aves e tartarugas — disse Albert.
Fonte: O Globo