As enchentes de Belo Horizonte e São Paulo são a ponta mais recente do iceberg climático que está a atingir as cidades brasileiras. Despreparadas, estas estão ameaçadas por chuvas cada vez mais fortes e mais frequentes. As chuvas que caíam uma vez a cada 10, 20 anos, agora acontecem a cada 5 anos ou menos.
Daniela Chiaretti, no Valor, lembra que um trabalho do INPE de 2010 indicava que a temperatura média em São Paulo já tinha aumentado entre 2°C a 3°C, o suficiente para a cidade perder sua famosa garoa. A matéria compara as “enchentes surpresas” daqui com práticas adotadas mundo afora para exatamente reduzir o risco e os prejuízos com as chuva nas cidades brasileiras.
Em Moçambique, a prefeitura de Pemba e Nacala mapearam as zonas de risco de desabamentos e enchentes e só autorizam novas construções em função desses riscos. Na Filadélfia, nos EUA, a prefeitura sabe que os primeiros milímetros de chuva determinam o tamanho do estrago. Assim, implantaram um programa no qual as casas instalam sistemas de captação e armazenamento desse primeiros volumes. Em Bangladesh, a perda anual da criação de galinhas para as enchentes foi reduzida com a introdução da criação de patos.
Chiaretti conversou com Sergio Margulis e Natalie Untersell, responsáveis pelo melhor trabalho sobre impactos climáticos em todo o país, trabalho que traz um conjunto importante de medidas de prevenção e adaptação, o Brasil 2040. Margulis diz que “se cortar gases-estufa é missão dos governos federais, a adaptação é local. É preciso começar logo: desentupir bueiros, melhorar a drenagem, plantas árvores, limpar córregos, educar a população a não jogar lixo no chão. Implementar um plano e pensar em obras estruturantes. O que não é possível é não fazer nada e apenas esperar pela próxima calamidade”.
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Mais quente, mais seco e menos previsível. Assim são as metrópoles brasileiras se comparadas com o seu clima original - mas não é só aqui que isto acontece. É regra entre as maiores concentrações urbanas do mundo: todas as grandes cidades têm seu clima desregulado. Isto é resultado, sobretudo, da substituição de vegetação nativa por concreto e asfalto.
Não importa em qual região do Brasil você viva, se você mora em algum aglomerado urbano está passando mais calor do que deveria. As metrópoles brasileiras estão todas entre 4 e 5 graus Celsius acima da temperatura natural de seu bioma, informa Andrea Souza Santos, pesquisadora pelo COPPE/UFRJ e Secretária Executiva do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.
O principal vilão do aquecimento urbano já está identificado: é o concreto. “O cimento [base do concreto] é um problema desde sua produção, que emite muitos gases que aumentam o efeito estufa. Pela sua composição, é também um material que absorve bastante o calor e mantém o microclima mais quente”, explica Andrea Santos.
Além do concreto, o asfalto e o alto consumo de energia também estão na lista negra do impacto climático das grandes cidades. O consumo de energia, sobretudo quando utilizada no transporte urbano, produz muito calor com a emissão de gases na atmosfera.
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As chuvas que caíram em SP nos últimos dias e as que caíram em BH mostram claramente que estão despreparadas para o que vem pela frente. Pior, parecem estar no fundo do buraco e cavando.
Há muito tempo se sabe que o aquecimento global trará eventos climáticos mais extremos e mais frequentes. Marcelo Leite, na Folha, foi na mosca: “Pois os dois problemas são precisamente esses dois: cairão chuvas cada vez mais intensas, como avisam há décadas pesquisadores do clima, e governantes continuarão tentando tirar o corpo fora e insistirão em obras erradas em sua concepção”, referindo-se a piscinões, canalizações e mais avenidas expressas que, junto com a urbanização costumeira, acabam impermeabilizando o solo.
Leite alerta que “médias históricas não servem mais para planejar a rede de drenagem. Não faz sentido continuar insistindo em represar águas, pois os engenheiros não têm chance de vencer essa luta com a mudança do clima. Está na hora de rever os pressupostos e chamar urbanistas, climatologistas e ambientalistas para a mesa de discussão. Em lugar de construir mais pistas nas avenidas marginais, aumentando a impermeabilização do solo, que tal devolver as áreas de várzea para os rios e parar de aprisioná-los com cimento?”
Nabil Bonduki, também na Folha, foi feliz no título do seu artigo: ”Com chuvas cada vez mais intensas, rios que viram ruas voltarão a ser rios”.
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As intensas chuvas que atingiram a Região Metropolitana de São Paulo na madrugada e na manhã desta segunda-feira (10) são exemplo de um fenômeno que tem se tornado cada vez mais comum na região, causado em parte pelas mudanças climáticas e o processo de urbanização desorganizada da cidade.
Uma revisão dos registros de chuvas ao longo das últimas sete décadas aponta que houve um aumento significativo no volume total de precipitação nas temporadas de chuva ao longo do período. Enquanto na década de 1950 praticamente não havia dias com chuvas fortes – expressão usada para designar precipitações com mais de 50 mm –, hoje elas têm ocorrido de duas a cinco vezes por ano nos últimos dez anos.
É o que mostra um trabalho recém-publicado por vários pesquisadores brasileiros liderados pelo climatologista José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). “Os eventos extremos estão cada vez mais frequentes, ao mesmo tempo em que a vulnerabilidade da população também. Por isso desastres como enchentes, enxurradas e deslizamentos de terra afetam cada vez mais pessoas”, disse Marengo.
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