Temperatura na Amazônia pode subir 6ºC

Por Felipe Werneck, do Rio

Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas também prevê a diminuição das chuvas a quase a metade, pondo o bioma em risco.

A temperatura na Amazônia deve aumentar de 5º a 6ºC até o fim do século, segundo projeções do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). O primeiro relatório de avaliação nacional do PBMC prevê ainda uma redução de 40% a 45% das chuvas na região amazônica no mesmo período, indicando que modificações de clima “podem comprometer o bioma”.O estudo aponta tendência de aumento das chuvas apenas para o Pampa e a porção sul/sudeste da Mata Atlântica, principalmente de São Paulo ao Rio Grande do Sul. As projeções mais graves foram feitas para Amazônia, Caatinga e Cerrado.

O climatologista Tércio Ambrizzi, da Universidade de São Paulo, que coordenou a pesquisa, disse que análises regionais tendem a ser mais precisas do que modelos de grande escala, destacando a controvérsia em relação à incerteza que envolve resultados de simulações sobre o aquecimento do clima.O relatório será apresentado hoje no auditório da Coppe/UFRJ no Parque dos Atletas, durante o evento “O Futuro Sustentável”, que integra a Rio+20. O trabalho completo terá outros dois volumes até outubro.“Mais preocupante do que o dado em si (de aquecimento do clima em cada bioma) é a cadeia de efeitos que isso acarreta”, diz Suzana Kahn, presidente do comitê científico do PBMC e subsecretária de Economia Verde do Rio. Segundo ela, apesar da falta de “certeza absoluta” em relação aos efeitos do aquecimento, isso não significa que se deve postergar a ação.O estudo destaca o “inegável sucesso” brasileiro na recente redução da área desmatada na Amazônia, de 27.000 km² em 2004 para 6.200 km² em 2011. Mas chama a atenção em relação a “como a área desmatada continuará a decrescer”até que o Brasil atinja as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa assumidas oficialmente. De acordo com a análise, caso o desmatamento alcance 40% na região, são esperadas “mudanças drásticas” no ciclo hidrológico, prolongando a duração da estação seca.A projeção mais crítica para a região amazônica seria a chamada “savanização” da parte leste da floresta. “Uma mudança tão profunda na vegetação acarretaria perdas significativas nos estoques de carbono, tanto do solo como da vegetação. Além das perdas de carbono, outras mudanças poderiam resultar num colapso da floresta”, aponta o estudo.Ambrizzi disse que este é um cenário extremo. “Pode ser mais intenso, como mostra o estudo, ou pode ser um pouco menos, com uma variação menor. Mas mesmo assim haveria uma modificação do bioma.”No caso da Caatinga, a projeção é de temperaturas mais altas entre 3,5° e 4,5°C, além do agravamento do déficit hídrico do nordeste, com as chuvas caindo de 40% a 50%. No Cerrado, a temperatura aumentaria entre 5° e 5,5°, e a distribuição de chuva teria uma redução de 35% a 45% até 2100.O relatório ressalta a vulnerabilidade de grandes cidades às mudanças nos padrões de chuva, por falta de investimentos em infraestrutura para evitar enchentes e deslizamentos de encostas. Poucas cidades têm uma série histórica de dados de precipitação pluviométrica. Ambrizzi destaca a necessidade de ampliação da rede de observação e do número de pesquisadores no País. Segundo ele, apesar das lacunas e incertezas relacionadas às projeções sobre mudanças do clima, as tendências apontadas pelo relatório são consensuais.Presidido por Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o PBMC foi criado em 2009 e reúne 250 especialistas de universidades e institutos de pesquisa do país. O relatório segue o modelo usado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da ONU. As projeções de cenários futuros do clima levam em conta mudanças no uso da terra ou nas concentrações de gases de efeito estufa.

Para o diretor da Coppe e secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, o grande mérito do relatório é “dar o estado da arte do conhecimento científico, olhando para dentro do Brasil”. O documento, segundo ele, aponta a gravidade potencial do problema. “A ciência, no fundo, trabalha com a ideia da evolução permanente. Nunca estabelece uma verdade definitiva. Ainda mais numa área como o clima”, disse Pinguelli. Segundo ele, as incertezas são maiores em relação aos padrões de chuva. “A regionalização dos estudos é uma contribuição importante.” 
 

Painel Brasileiro do Clima prevê mais seca

Primeira análise nacional sobre o impacto das mudanças climáticas indica que Amazônia e caatinga são os biomas mais vulneráveis até o fim do século

RIO — Enquanto os chefes de Estado reunidos na Rio+20 não parecem dispostos a assinar um documento mais ambicioso do que o já acordado, o Primeiro Relatório de Avaliação Nacional de Mudanças Climáticas prevê um Brasil ainda mais vulnerável ao aumento da temperatura do planeta do que o imaginado. O documento, organizado pela Coppe/UFRJ, reúne dados de 128 cientistas de todo o país. E estima que, ao longo do século, as secas serão cada vez mais severas na Amazônia e na caatinga, com redução de chuvas bem acima da média. Os grandes centros urbanos do Sudeste enfrentariam um aumento constante da intensidade de tempestades.

A Amazônia, segundo o estu$, é o mais vulnerável dos biomas. Os números mostram que, até 2100, as mudanças seriam consideráveis. A previsão é que o clima local ficaria muito mais seco que o atual, com redução de até 45% das chuvas, e mais quente, com aumento de temperatura variando de 5°C a 6°C — compatível com os piores cenários produzidos pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. O levantamento revela, no entanto, que o problema não está tão distante quanto parece. Os primeiros efeitos já seriam sentidos nos próximos 30 anos, quando as chuvas poderão ser reduzidas em 10%.

 Na caatinga, a situação seria semelhante, indicando que as recentes secas registradas no Nordeste devem estar incluídas num contexto maior de mudanças climáticas. Nas próximas três décadas, as chuvas seriam reduzidas em até 20% nessa área já tão árida. Esse percentual de queda poderia chegar a alarmantes 50% até o fim do século, com sério agravamento do déficit hídrico do Nordeste. A tendência da redução de chuvas e aumento das temperaturas também aparece para o cerrado, o Pantanal e a porção da Mata Atlântica no Nordeste.

 O relatório, feito com a mesma metodologia do IPCC, será apresentado oficialmente hoje, no estande da Coppe/UFRJ no Parque dos Atletas, pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC). O estudo mostra que o agravamento da seca nesses biomas alteraria diretamente o ciclo de chuvas no Sudeste e no Sul. Isso porque a floresta tem o papel de absorver o vapor d'água do ar, promovendo o equilíbrio local. Sem floresta, por meio dos ventos, toda essa água vai para o Sudeste e o Sul. De acordo com o estudo, o aumento da precipitação na Mata Atlântica das regiões e nos Pampas, no Sul, até o fim do século pode ultrapassar os 30%.

 — O maior risco está justamente nessa mudança do ciclo de chuvas, no padrão de intensidade das chuvas — explica a presidente do comitê científico do PBMC, Suzana Kahn Ribeiro. — As chuvas no Sudeste estão associadas à evaporação das florestas no Norte e ao regime de ventos que as trazem para cá. Acho que o relatório tem isso de muito interessante, convergir a questão do clima, que às vezes fica numa esfera muito científica, para danos muito localizados. E, no caso do Rio, isso é muito importante.

 A situação é mais preocupante nas grandes cidades, com mais de 1 milhão de habitantes, onde a acelerada urbanização as deixou mais vulneráveis a tempestades intensas, enchentes e deslizamento de encostas.

— A própria configuração das cidades dificulta o escoamento das águas. Além disso, os centros urbanos têm ilhas de calor, o que potencializa a alta das temperaturas — alerta Suzana. — Se temos uma chuva intensa num lugar com pouca gente, o impacto é mínimo; mas, se isso ocorre numa área populosa, os danos são maiores.

Fonte: O Globo

PBMC revela o Status dos Volumes 2 e 3 do Primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1) em importante encontro na Rio+20 e se prepara para o lançamento do Volume 1 nessa quinta-feira (21/06)

 

Na última sexta-feira, dia 15/06/2012, ocorreu o workshop "Adaptação e mitigação das mudanças climáticas no Brasil”, promovido pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, no Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca, como parte do evento da Rio+20.

Participaram do evento os coordenadores do Grupo de Trabalho 2, Antônio Magalhães (CGEE) e Eduardo Assad (Embrapa), e do Grupo de Trabalho 3, Emílio La Rovere (COPPE/ UFRJ), do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, expondo o Status dos Volumes 2 e 3, respectivamente, do Primeiro Relatório de Avaliação Nacional sobre Mudanças Climáticas (RAN1).

O Volume 1 do RAN1 será lançado no dia 21/06/2012, na próxima quinta-feira, ainda no evento da Rio+20, e tratará das bases científicas das mudanças climática. Já os Volumes 2 e 3 têm ambos lançamentos previstos para outubro desse ano, sendo que um tratará de impactos, vulnerabilidades e adaptação e o outro de mitigação das mudanças climáticas.

O evento ainda se mostrou um importante debate contando com a presença das autoridades internacionais Quamrul Chowdhury de Bangladesh e Teng Fei e Liu Bin da China, assim como outros importantes nomes na área como Fabio Scarano (Vice-Presidente da Conservação Internacional) e Hilton Silveira Pinto (Cepalgr-Unicamp) promovendo cruzamentos e reflexões sobre a questão da importância da formulação de um Relatório Nacional sobre mudanças climáticas para orientação dos tomadores de decisão e as dificuldades encontradas na formulação do mesmo.

Clique aqui e confira as fotos do evento.

Workshop "As mudanças climáticas: O primeiro relatório no Brasil de avaliação nacional sobre mudanças climáticas"

 

21 de Junho de 2012, Parque dos Atletas, Pavilhão da COPPE/UFRJ - Barra da Tijuca/RJ

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