Um estudo do Banco Mundial aponta que a variabilidade das chuvas e a intensidade das secas no Nordeste continuarão aumentando até 2050, com graves efeitos para a população, caso os governos locais não invistam em infraestrutura e gestão hídrica.
Pela análise de duas regiões – a bacia de Piranhas-Açu, no Rio Grande do Norte, e o rio Jaguaribe, no Ceará – o relatório “Impactos da Mudança Climática na Gestão de Recursos Hídricos: Desafios e Oportunidades no Nordeste do Brasil” analisa os efeitos do aquecimento global combinados com fatores como o crescimento populacional e o aumento da demanda por água.
Em parceria com a Agência Nacional de Águas, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos e a Universidade Federal do Ceará, entre outras instituições, os pesquisadores avaliam que a bacia de Piranhas-Açu, por exemplo, deve sofrer uma maior perda de água no solo e nas plantas, um fenômeno que os especialistas chamam “evapotranspiração”. No entanto, se forem realizados constantes investimentos na modernização da irrigação, a demanda pela água na agricultura pode diminuir 40%, o que atenuaria o problema de gerenciamento da água da região.
O relatório mostra que, embora futuras compensações sobre o uso da água vão existir e deverão ser negociadas e discutidas entre os usuários, estratégias de alocação mais flexíveis poderiam tornar o setor de água no Nordeste brasileiro menos vulnerável aos impactos da demanda e das mudanças climáticas.
Agência da ONU auxilia na implementação de mudanças
Um programa financiado pelo Banco Mundial já começa a implementar mudanças na região. Uma iniciativa que atenderá 23 pequenos agricultores – com lotes de cerca de cinco hectares cada – apoia os trabalhadores rurais na compra de equipamentos que economizam água, dá assistência técnica na gestão hídrica e auxilia a expansão da rede elétrica na área do projeto, reduzindo a necessidade de água para o cultivo.
O agricultor Jean Azevedo acredita que o novo projeto ajudará os produtores que continuam procurando oportunidades no campo. Ele vive em Cruzeta (RN), uma região onde caem, em média, menos de 800 mm de chuva por ano – um volume de precipitação similar ao de países da África Subsaariana – e onde praticamente não chove entre julho e dezembro.
Preservar esse recurso natural tão valioso é um dos principais objetivos de Vitoriano Alves dos Santos, colega do Azevedo na Associação de Produtores de Cruzeta. “Ainda tenho acesso a uma fonte de água, mas me aflige ver a quantidade gasta todos os dias com a irrigação.”
Foto: Agricultor Vitoriano Alves, de Cruzeta (RN). (Banco Mundial/Mariana Ceratti)
Fonte: ONU no Brasil
Por Andrea Santos, Secretária Executiva do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas
A 19ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em Varsóvia, na Polônia, de 11 a 23 de novembro de 2013 foi marcada pela necessidade de urgência em ajudar países que sofrem com eventos climáticos extremos, progresso na proteção de florestas (REDD+) e algumas polêmicas. O principal objetivo da conferência da ONU era iniciar o planejamento do novo tratado que vai substituir o Protocolo de Kyoto, criado em 1997 para obrigar nações desenvolvidas a reduzir suas emissões em 5,2%, entre 2008 e 2012, em relação aos níveis de 1990. Ele terá que ser aprovado na COP 21, que vai acontecer em Paris em 2015.
De acordo com o Quinto relatório do IPCC (AR5) o aquecimento do sistema climático é inequívoco. A influência humana sobre o sistema climático é clara e evidente A atmosfera e o oceano estão aquecendo, as quantidades de neve e gelo têm diminuído, o nível do mar subiu, e as concentrações de gases de efeito estufa aumentaram.
Ações mais ambiciosas para conter o aquecimento global (redução de gases de efeito estufa) e promover adaptação são urgentes e estão atrasadas para cumprir com a meta limitar a elevação da temperatura global a 2oC até 2100. A mensagem da necessidade de urgência em adaptação foi simbolicamente representada pelo delegado filipino Yeb Saño, que no primeiro dia da conferência iniciou uma greve de fome que durou 13 dias, em homenagem às vítimas do evento climático extremo, o furação Hayan, ocorrido nas Filipinas, e também como protesto pela necessidade de ações mais ambiciosas durante a COP19.
Os 195 países-membros da Convenção do Clima concordaram com um caminho de ações para os próximos dois anos, a fim de que em 2015, na conferência de Paris, se estabeleça um novo acordo climático global aplicável a todos e que entre em vigor em 2020. Já no ano que vem, na COP de Lima, Peru, os delegados terão de trabalhar em um rascunho desse acordo, e espera-se que o presidente da próxima COP tenha um papel mais proativo do que o presidente da COP19, atualmente ex-ministro do meio ambiente polonês, demitido durante a conferência.
Quais foram os resultados da COP 19? - foi aprovado mecanismo de perdas e danos, que força os países ricos a financiar países mais vulneráveis, que sofrem com a mudança climática; - desbloqueio do debate sobre financiamento a longo prazo; - reforçada a necessidade de aprovar o novo acordo em 2015; |
A criação de um novo mecanismo "loss and damage" (perdas e danos) foi aprovado, e deverá buscar maneiras de compensar nações, com o financiamento de países ricos, que estão longe de adaptarem e já estão sofrendo com as mudanças climáticas no presente. Outro avanço, obtido foi a definição de regras para pagamento de ações que reduzam as emissões por desmatamento (REDD+).
Sobre o caminho até 2015, os países foram convidados a iniciar ou intensificar suas preparações domésticas (redução de suas emissões), e a novidade é que deverão ocorrer consultas públicas com a sociedade, setores econômicos e governos subnacionais, a fim de determinar qual a contribuição pretendida no novo acordo. A proposta é que cada nação apresente, antes da COP de Paris, como se dará a redução de emissões, e no caso dos países desenvolvidos, quanto cada um pretende colocar de dinheiro para ajudar esse processo nos países em desenvolvimento.
Os países reunidos na Conferência decidiram que devem trabalhar até o primeiro trimestre de 2015 para costurar o novo acordo global que obrigará todos os governos a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e, com isso, os impactos da mudança do clima. Contudo, ficou vago o prazo para a apresentação das ‘contribuições’, visto que o texto, que foi apresentado ao longo dos últimos dias da COP e foi rejeitado por grandes países emergentes como a China e a Índia, deixa aberta a possibilidade de que só os países já “prontos” apresentem suas contribuições.
As delegações aprovaram também, por consenso, desbloquear o debate sobre financiamento a longo prazo das medidas contra a mudança climática, proposta apresentada em 2009 na COP 15, em Copenhague. Seu objetivo é criar um fundo de US$ 100 bilhões anuais após 2020, com recurso proveniente das nações desenvolvidas e destinado a auxiliar países pobres.
A comissão tratou de assuntos como o pagamento por serviços ambientais, a prevenção de desastres naturais, o papel das escolas na valorização ambiental e a economia de baixo carbono.
A Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas aprovou, na tarde desta quarta-feira (11), seu relatório final de atividades de 2013. A comissão busca acompanhar, monitorar e fiscalizar, de modo contínuo, as ações referentes às mudanças climáticas no Brasil.
O deputado Sarney Filho (PV-MA) destacou em seu relatório as audiências públicas realizadas em Brasília e nas assembleias legislativas de Pernambuco, Amazonas, Paraná e Santa Catarina.
As audiências, informou Sarney Filho, trataram de assuntos como o pagamento por serviços ambientais, a prevenção de desastres naturais, os processos de conscientização popular sobre o valor do meio ambiente, o papel das escolas na valorização ambiental e a economia de baixo carbono.
Sarney Filho também registrou no relatório a realização do Colóquio Internacional sobre Mudanças Climáticas: A Agenda Pós-Varsóvia, no âmbito da comissão. O encontro ocorreu na última sexta-feira (6) e contou com a presença da ministra da Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
O relator também destacou a participação de integrantes da comissão na 19ª Conferência do Clima da ONU (COP-19), realizada em novembro, na Polônia. A presidente da comissão, senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), se disse surpresa com os resultados de uma reunião em torno da qual "não pairava qualquer expectativa".
Segundo a parlamentar, o maior avanço alcançado foi o estabelecimento de regras para o pagamento aos países que protegerem suas áreas de florestas, o chamado REDD+ (sigla para Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal). Para ter acesso aos recursos, os países devem reduzir emissões de carbono por desmatamento e degradação florestal.
Sarney Filho também registrou no relatório a cobrança sobre um acordo global que busque a redução de emissões de poluentes. Para o relator, o Brasil precisa se preparar cada vez mais para ter um papel fundamental na defesa da meio ambiente. O deputado ainda defendeu mecanismos de compensação para práticas econômicas que preservem o meio ambiente e uma maior valorização da “floresta em pé”. “Os ecossistemas são defesas naturais para proteger o ser humano”, lembrou.
O deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ) considerou o relatório abrangente e cuidadoso, mas sugeriu a inclusão das conclusões de eventos sobre mudanças climáticas, como o Rio Clima 2013. Ele reconheceu que países desenvolvidos têm grande parcela de culpa na degradação ambiental do planeta, mas aproveitou para cobrar um maior empenho do Brasil em ações que busquem reduzir a emissão de poluentes. Sirkis ainda lamentou as poucas decisões práticas da COP-19.
O relatório de Sarney Filho também defende a aprovação do Projeto de Lei (PL) 792/07, que prevê o pagamento ou a compensação por serviços ambientais, e do PL 195/11, que institui o sistema nacional de redução de emissões por desmatamento e degradação, conservação, manejo florestal sustentável, manutenção e aumento dos estoques de carbono florestal (REDD+). Ambos os projetos estão em análise na Câmara dos Deputados.
O deputado ainda sugeriu a criação de um prêmio, para destacar municípios que implantem ou patrocinem projetos ambientais voltados para as mudanças climáticas.
O deputado Fernando Ferro (PT-PE), vice-presidente da comissão, elogiou o trabalho do relator e sugeriu que o relatório proponha ao Congresso a possibilidade de a comissão ser também legitimada a apresentar emendas a projetos. Outra sugestão de Ferro foi o encaminhamento do texto a todas as assembleias legislativas do País.
Segundo o deputado, o documento também vai ser importante para pesquisas de ONGs e universidades. Em resposta, a senadora Vanessa Grazziotin informou que já foi solicitada a impressão de 3 mil exemplares do relatório. As sugestões foram aceitas pelo relator e serão incorporadas ao relatório final.
A comissão é formada por 14 senadores e 14 deputados, além de igual número de suplentes.
Foto: Sarney Filho (adaptada do site: http://www.sarneyfilho.com.br)
Fonte: Instituto Carbono Brasil
Por Karen Tada - Planeta Sustentável
A nova Revista do Clima – Volume 2 mostra como a mudança climática influi no pensamento econômico, no modo de pensar negócios e nos planos pessoais, nacionais e internacionais
O Planeta Sustentável reuniu, na nova Revista do Clima – Volume 2, uma série de artigos, entrevistas e gráficos que falam dos desafios que as mudanças climáticas já estão impondo a todos nós e como ele deve influir em nosso modo de pensar, planejar e agir, em diversas frentes.
A publicação traz 26 autores convidados, entre economistas, cientistas, diplomatas e empresários. Especialistas como Achim Steiner, diretor-executivo do PNUMA, e Suzana Khan, do IPCC e do Painel Brasileiro das Mudanças Climáticas, falam que:
- as cidades serão as mais afetadas e que é preciso torná-las resilientes, ou seja, aptas a responder e se recuperar dos impactos
- que é hora de apertar o passo e transformar a economia, os modos de produção, aumentar o compromisso com o bem-estar das pessoas e respeitar, para valer, os limites da natureza
- e que as negociações para um acordo mundial para reduzir as emissões de gasesde efeito estufa continuam tímidos, mas aqui e ali houve avanços, como o de REDD+.
E tem também os novos dados das emissões brasileiras, que mostram que o País precisa ficar atento para não perder seu papel de protagonista nas negociações internacionais, e, principalmente, para proteger a população mais vulnerável aosefeitos do clima, bem como suas atividades produtivas.
A revista também traz alguns dos melhores posts deste Blog do Clima e as reflexões e opiniões de quem acompanhou a última COP19 do Clima, em Varsóvia.
O conteúdo aponta que está mais que na hora de agir. Como diz Caco de Paula, diretor do Planeta Sustentável, em sua apresentação da revista, sabemos onde queremos chegar, e isso é um grande passo. Agora é preciso apressá-lo.
A Revista do Clima – Volume 2 está disponível em PDF. Baixe o seu gratuitamente!
Não viu o volume 1 da revista? Ele também está disponível. Baixe aqui.
Fonte: Planeta Sustentável