A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) disponibilizou umatlas digital dos cenários climáticos projetados para o Brasil no quarto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), preparado em 2007.
Os mapas climáticos apresentados no atlas trazem temperatura média do ar (mínimas, médias e máximas), precipitação pluvial, umidade relativa do ar e duração do período de molhamento foliar para o país.
São 504 mapas mensais, abrangendo o clima de 1961 a 1990 (período de referência) e simulações para os períodos de 2011 a 2040, 2041 a 2070 e 2071 a 2100, contemplando dois cenários de emissão de gases de efeito estufa calculados pelo IPCC, um otimista (chamado B1) e um pessimista (A2).
O documento é resultado principalmente de dois projetos da Embrapa: "Impactos das mudanças climáticas globais sobre problemas fitossanitários" e “Impacto das mudanças climáticas sobre doenças e pragas em cultivos de importância para a agroindústria da Argentina e do Brasil", realizados em cooperação com o Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria (Inta), da Argentina.
Os autores do Atlas são Emília Hamada e Raquel Ghini, pesquisadoras da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna); José Antonio Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); e Bruno Silva Oliveira e Sulimar Munira Caparoci Nogueira, doutorandos do Inpe em São José dos Campos.
Acesse o atlas digital em: http://www.cnpma.embrapa.br/climapest/atlasdigital4r/
Fonte: Agência FAPESP
Por Fabio Reynol
As zonas costeiras costumam sofrer alterações provocadas por elementos naturais, como elevação do nível do mar e o regime de ondas a que são submetidas. Com as mudanças climáticas, os elementos naturais que influenciam nas alterações das praias, chamados de condições forçantes, devem se intensificar e modificar o desenho das terras costeiras.
Pesquisa conduzida em São Paulo e Pernambuco, que investigou os impactos sofridos por quatro praias nos dois estados, concluiu, no entanto, que os efeitos da ação humana podem ser ainda mais fortes do que os da natureza.
Executado com apoio da FAPESP e da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), o trabalho é resultado de uma chamada de propostas lançada no âmbito de um acordo de cooperação entre as instituições.
A pesquisa “Vulnerabilidade da zona costeira dos estados de São Paulo e Pernambuco: situação atual e projeções para cenários de mudanças climáticas” durou três anos, período em que foram estudadas as praias paulistas de Ilha Comprida, no município de mesmo nome, e de Massaguaçu, em Caraguatatuba, e as pernambucanas praia da Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, e praia do Paiva, em Cabo de Santo Agostinho.
“Escolhemos praias com características diferentes para fazer as comparações. Massaguaçu, no litoral norte paulista, e Jaboatão, na região metropolitana do Recife, são praias urbanas, enquanto Ilha Comprida e Paiva ficam em regiões menos habitadas”, disse o coordenador do projeto, Eduardo Siegle, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO/USP), que dividiu a liderança dos trabalhos com a professora Tereza Araújo, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A pesquisa analisou como as mudanças climáticas globais provocam alterações na costa. Uma das condições forçantes é o clima de ondas. Segundo Siegle, as mudanças climáticas provocam alterações nos regimes de ventos, principais influenciadores na formação das ondas. Com direção e força alteradas, as ondas podem redesenhar o contorno das praias, refazendo sua morfologia.
“As ondas redefinem os depósitos de sedimentos e as praias atingem um equilíbrio dinâmico mediante as condições a que estão sujeitas; pode ocorrer erosão em alguns pontos e deposição de material em outros”, disse Siegle, acrescentando que uma praia pode encolher, mudar de formato e até aumentar de tamanho.
Outro fator decorrente das mudanças climáticas é a elevação do nível do mar, que leva as ondas a ter maior alcance e atingir novos pontos da costa. Essa condição costuma aumentar erosões e provocar inundações de áreas próximas à costa.
Um ponto confirmado pelos resultados obtidos foi o fato de que, em algumas regiões, as ações antrópicas no litoral exerceram mais influência nessas alterações que as forças da natureza. “Acompanhamos imagens de décadas. Nesse período, os impactos de uma ocupação mal feita do litoral podem ser muito maiores do que aqueles provocados por mudanças climáticas”, disse.
Processos de urbanização que impermeabilizam áreas praianas necessárias ao movimento de sedimentos, por exemplo, costumam provocar erosões de forma mais acentuada. No estudo, a ação humana figurou entre os principais influenciadores da vulnerabilidade costeira.
O trabalho também se debruçou sobre as mudanças históricas nas condições forçantes naturais. Para isso, a equipe lançou mão de modelos computacionais que simularam essas forças e seus efeitos ao longo das últimas décadas. Outro método de investigação foi a coleta de dados em campo. Os pesquisadores fizeram levantamentos morfológicos, que analisam o formato das praias e mediram parâmetros de suas ondas.
A medição de variáveis físicas na região costeira exigiu a aplicação de métodos inovadores para colocar instrumentos nas zonas de arrebentação, relatou Siegle. A equipe acoplou um perfilador acústico de correntes marinhas Doppler (ADCP) em uma moto aquática com um trenó.
O equipamento fornece parâmetros como velocidade das correntes na coluna d’água, altura, direção e período das ondas. A moto aquática foi usada para levantamentos batimétricos e hidrodinâmicos em áreas rasas sujeitas à arrebentação de ondas, nas quais embarcações convencionais não conseguem navegar.
Uma série de imagens aéreas registradas ao longo de aproximadamente 40 anos foi outra importante fonte de dados para a pesquisa. Foram acessados arquivos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do próprio Instituto Oceanográfico da USP. Por meio de pontos georreferenciados marcados sobre as imagens, foi possível acompanhar as alterações na faixa costeira ao longo do tempo.
Com os dados coletados pelos diferentes métodos, o grupo estabeleceu nove indicadores de vulnerabilidade: posição da linha de costa, largura da praia, elevação do terreno, obras de engenharia costeira, permeabilidade do solo, vegetação, presença de rios ou desembocaduras, taxa de ocupação e configurações ao largo. Este último diz respeito à área de mar aberto adjacente à região costeira em estudo.
Sistemas praiais mais largos tendem a ser mais estáveis que faixas estreitas, portanto menos vulneráveis. A presença de vegetação bem desenvolvida na zona pós-praia sugere um cenário de baixa erosão e rara intrusão de água salina.
A vulnerabilidade à inundação pode ser estimada, entre outros fatores, pela permeabilidade do solo. Quanto menos permeável for o solo, mais sujeita à inundação será a área. E por alterar simultaneamente vários desses fatores, a taxa de ocupação da costa é um dos mais preponderantes indicadores de vulnerabilidade de uma área costeira.
Os indicadores foram depois tabulados e classificados de acordo com três graus de vulnerabilidade: alta, média ou baixa, para cada ano analisado. Registrou-se a evolução da vulnerabilidade de cada praia estudada e os pesquisadores chegaram a várias conclusões.
“Entre elas eu destacaria a importância da ocupação humana no litoral na elevação da vulnerabilidade da praia”, disse Siegle. As praias urbanas nos dois estados apresentaram situação de vulnerabilidade maior que aquelas com taxa de ocupação menor.
A aplicação desse método foi detalhada na tese de doutorado de Paulo Henrique Gomes de Oliveira Sousa, intitulada “Vulnerabilidade à erosão costeira no litoral de São Paulo: interação entre processos costeiros e atividades antrópicas”, defendida em 2013 no Programa de Pós-Graduação em Oceanografia do IOUSP.
O projeto de pesquisa resultou em cinco trabalhos de iniciação científica, quatro dissertações de mestrado e duas teses de doutorado, uma com bolsa FAPESP – Cássia Pianca Barroso desenvolveu o trabalho “Uso de imagens de vídeo para a extração de variáveis costeiras: processos de curto a médio termo”.
De acordo com Siegle, vários artigos estão em fase de redação e quatro já foram publicados, entre eles Evolução da vulnerabilidade à erosão costeira na Praia de Massaguaçú (SP), Brasil no Journal of Integrated Coastal Management e Vulnerability assessment of Massaguaçú Beach (SE Brazil) na Ocean & Coastal Management.
Além dos resultados científicos, o projeto apresentou como fruto a aproximação entre instituições de pesquisa paulistas e pernambucanas. “A interação foi muito grande e pesquisadores pernambucanos participaram das pesquisas em campo em São Paulo e vice-versa”, contou Siegle.
A aproximação dos grupos levou a outro trabalho conjunto FAPESP-FACEPE, o projeto “Suscetibilidade e resistência de sistemas estuarinos urbanos a mudanças globais: balanço hidro-sedimentar, elevação do nível do mar, resposta a eventos extremos”, coordenado pelos professores Carlos Schettini (UFPE) e Rubens Cesar Lopes Ferreira (IO/USP).
A execução do projeto coordenado por Siegle e Tereza Araújo ainda levou à formação do Grupo de Trabalho “Respostas da Linha de Costa” que incorpora o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Ambientes Tropicais Marinhos (AmbTropic) , sediado no Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia e apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).
Foto: Barreira de proteção para proteger a praia da força das ondas. Estudo realizado por pesquisadores de São Paulo e de Pernambuco detalhou a vulnerabilidade da costa nos dois estados - por Eduardo Siegle.
Fonte: Agência FAPESP
Autor: Jéssica Lipinski
Um novo estudo do economista Nicholas Stern, autor do famoso relatório com seu nome, e de Simon Dietz, ambos do Instituto de Pesquisa Grantham sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente, sugere que os riscos econômicos relacionados às consequências das mudanças climáticas são maiores do que o estimado anteriormente. Isso porque os atuais modelos criados para isso não levam em consideração as mais novas descobertas associadas ao fenômeno e seu impacto nos ecossistemas e na sociedade.
Por “subestimar grandemente” os riscos das mudanças climáticas, Stern afirma que os atuais modelos que calculam os efeitos do aquecimento global, como o DICE (dynamic integrated climate-economy), usado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) em seus últimos relatórios, apontam para impactos menores do que os que podem realmente ocorrer.
Por exemplo, a análise indica que o modelo atual sugere que uma perda de 50% no PIB global só aconteceria caso houvesse um aumento de 18ºC nas temperaturas globais, mesmo que tal aquecimento provavelmente tornasse a Terra inabitável para muitas espécies, incluindo os seres humanos. O modelo DICE também aponta para a possibilidade de que um aquecimento de 5ºC a 6ºC causasse danos catastróficos.
Já a nova avaliação sugere que danos sérios podem ocorrer ao planeta com níveis muito menores de aquecimento global, já a partir dos 2ºC. Segundo o trabalho de Stern e Dietz, os riscos provavelmente seriam tão grandes que um preço global para o carbono de US$ 32 a US$ 103 por toneladas de emissões seria necessário já a partir de 2015 para evitar que o aumento de temperatura ultrapassasse os 2ºC.
Além disso, dentro de duas décadas, o preço do carbono teria que quase triplicar em relação a esse patamar, chegando a entre US$ 82 e US$ 260 por tonelada, declararam os dois economistas em sua pesquisa, que será publicada no periódico The Economic Journal em setembro.
Dietz afirmou que o novo modelo visa levar todas as variáveis (por exemplo, em vez de fazer uma média dos riscos globais, levar em consideração como eles atingirão cada região do planeta) em consideração. O método indica que “os riscos das mudanças climáticas são maiores do que o retratado por modelos econômicos anteriores e, portanto, reforça a necessidade de fortes cortes nas emissões de gases do efeito estufa”, comentou ele.
Stern acrescentou que o novo modelo sugere que, se medidas não forem tomadas para cortar as emissões anuais de gases do efeito estufa, como substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis, investir em eficiência energética e controlar o desmatamento, os padrões de vida atuais podem ser afetados até o final do século.
O economista, que em 2006 apresentou seu famoso relatório, que analisa o impacto econômico das mudanças climáticas, admitiu no ano passado que também havia subestimado o quão rapidamente o fenômeno teria consequências sobre a economia.
“Espero que nosso [novo] trabalho incite outros economistas a buscarem modelos muito melhores, que ajudarão os legisladores e o público a reconhecerem a imensidão dos possíveis riscos das mudanças climáticas não gerenciadas. Modelos que supõem que danos catastróficos não são possíveis não levam em conta a magnitude das questões e implicações da ciência”, concluiu.
Fonte: Instituto Carbono Brasil
Por Karina Toledo
Eventos climáticos extremos, como estiagens prolongadas, fortes tempestades e ondas de calor ou frio intenso, devem se tornar mais frequentes à medida que a temperatura do planeta se eleva – o que poderá impactar a disponibilidade dos recursos hídricos nos grandes centros urbanos brasileiros.
A avaliação foi feita pelo pesquisador Humberto Ribeiro da Rocha, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP), durante palestra apresentada no terceiro encontro do Ciclo de Conferências 2014 do programa BIOTA-FAPESP Educação, realizado no dia 24 de abril, em São Paulo.
De acordo com Rocha, a oferta de água no Brasil é – na média – muito maior do que a demanda. Com uma vazão de 5.660 quilômetros cúbicos de água por ano (km³/a), os rios brasileiros concentram cerca de 12% da disponibilidade hídrica mundial. A população consome em torno de 74 km³/a – menos de 2% da quantidade ofertada. Mas, como os recursos hídricos estão desigualmente distribuídos, há regiões com problemas de desabastecimento.
“Cerca de 80% dos recursos hídricos estão concentrados na Bacia Amazônica, enquanto há regiões com muito pouco, como o sertão nordestino, onde só é possível sobreviver graças aos grandes açudes”, afirmou.
Enquanto no Nordeste e no norte de Minas Gerais a falta de chuva é a principal causa da escassez hídrica, acrescentou o pesquisador, nos grandes centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Goiânia o problema é o adensamento populacional.
“Há uma grande dificuldade de consolidar sistemas de abastecimento que acompanhem o crescimento populacional e a demanda dos setores industrial e agrícola. Todos trabalham no limite e, quando há um evento climático extremo como a estiagem que afetou São Paulo no último verão, o abastecimento entra em crise”, avaliou.
Embora em escala global seja estimado um aumento de 10% no volume de chuvas com o aquecimento global, resultante principalmente da maior evaporação do oceano, determinadas regiões poderão sofrer com estiagem.
“A redistribuição de calor no oceano pode formar piscinas quentes e frias – o que distorce o regime de chuvas no continente. Pode passar a chover mais em certas regiões e menos em outras”, afirmou Rocha.
De acordo com o pesquisador, o veranico (altas temperaturas e escassez de chuvas) que afetou São Paulo no início de 2014 foi causado pela formação de uma piscina de água quente na região tropical do Atlântico. “Por algum motivo, as frentes frias que costumam esfriar a água do oceano não chegaram. A piscina foi se aquecendo cada vez mais e bloqueando a entrada de novas frentes frias. A temperatura do oceano é um fator de grande impacto no regime de chuvas do continente”, disse.
O ciclo de conferências organizado pelo Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo em 2014 tem como foco os serviços ecossistêmicos. Mais um encontro está programado para este semestre, com o tema “Biodiversidade e ciclagem de nutrientes” (um exemplo é a influência da biodiversidade sobre a poluição e o equilíbrio de dióxido de carbono e oxigênio na atmosfera).
A iniciativa é voltada à melhoria do ensino da ciência da biodiversidade. Podem participar estudantes, alunos e professores do ensino médio, alunos de graduação e pesquisadores. Mais informações sobre os próximos encontros estão disponíveis em www.fapesp.br/8441.
Foto: Sabesp
Fonte: Agência FAPESP