O Brasil não ficará apenas mais quente com as mudanças climáticas. O regime de chuvas também irá mudar, e muito, segundo um novo relatório que será publicado na próxima segunda-feira (9). O relatório, organizado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), reuniu os principais dados científicos para fazer projeções de como o Brasil irá responder ao aumento das médias de temperatura causado pelo aquecimento global.
O estudo é praticamente uma versão nacional do relatório de mudanças climáticas do IPCC. Ele foi elaborado com a participação de 345 pesquisadores, que fizeram nos últimos seis anos uma avaliação de toda a ciência já publicada sobre mudanças do clima no Brasil. "O Relatório de Avaliação mostra o estado da arte da ciência do clima no Brasil e na América do Sul", diz Andrea Santos, Secretária Executiva do PBMC.
Esse estado da arte confirma as principais pesquisas feitas por institutos internacionais: o planeta está aquecendo graças à emissão de gases de efeito estufa por atividades como geração de energia, transporte e desmatamento. As projeções mostram que o Brasil não ficará de fora das alterações climáticas globais, e indicam tendências de como o clima mudará em diferentes regiões do país.
A mudança de maior impacto será uma alteração nos padrões de chuvas. As pesquisas mostram que, no Sul e Sudeste, regiões que sofrem com enchentes e deslizamentos, as chuvas se tornarão mais fortes e mais frequentes. Já no Nordeste do país, a tendência é oposta. A região mais castigada pela seca enfrentará grande redução da quantidade de chuvas, e as secas, que já são comuns, ficarão mais frequentes.
A Caatinga será, junto com o Cerrado, o bioma do país que mais sofrerá com a mudança nos padrões de chuva. "A Caatinga tem uma tendência de diminuição de precipitação muito intensa, e o aumento da temperatura poderá chegar a 5,5ºC até o final do século. Isso é realmente impactante", diz Tércio Ambrizzi, professor da USP e um dos autores do relatório. Segundo ele, ciclos de seca como a que o Nordeste está enfrentando este ano serão mais comuns. "Nada impede que o Nordeste tenha um ano com excesso de água, mas a tendência ao longo dos anos é de diminuição da precipitação em toda a região".
O estudo também avança no conhecimento sobre o impacto das mudanças climáticas na Amazônia. A área mais ameaçada é a parte oriental da floresta, que além de estar mais vulnerável ao clima também enfrenta forte pressão da fronteira agrícola. O risco é de uma mudança do tipo de floresta na região - ela pode ficar mais pobre, com menor biomassa, fauna e flora.
Apesar disso, o relatório considera que o aquecimento global não é a principal ameaça à Amazônia. A continuidade do desmatamento traz riscos mais imediatos à floresta do que a alteração nas médias de temperatura. Algumas projeções apontam que, se a Amazônia perder mais de 40% da sua cobertura florestal, haverá uma mudança drástica na temperatura, podendo resultar em um aquecimento regional de até 4ºC. Atualmente, a Amazônia já perdeu cerca de 17% de sua cobertura florestal.
O Relatório de Avaliação Nacional também reserva um espaço para as incertezas existentes nas pesquisas sobre clima no Brasil. Segundo o estudo, há incertezas sobre a quantidade de gases de efeito estufa que serão emitidos no futuro, sobre as mudanças naturais do clima e sobre as limitações dos modelos de computador que simulam a temperatura. Segundo Ambrizzi, essas incertezas mostram que o país ainda tem muito a avançar na pesquisa climática. "Nós temos poucos pesquisadores atuando. Em muitas áreas do Brasil, faltam dados. A gente espera que os tomadores de decisão possam incentivar a pesquisa para diminuir essas incertezas".
Fonte: Blog do Planeta
No dia 30 de novembro representantes de 196 países se reúnem em Paris na busca por um consenso sobre qual será o rumo que a Convenção de Clima deve tomar. O principal objetivo é costurar um novo acordo entre os países para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, diminuindo também o aquecimento global e, em consequência, controlar o aumento da temperatura global em dois graus até 2100. Esse novo acordo vai substituir o protocolo de Kyoto, implantado em 1997, também com metas de redução da emissão de gases poluentes. Quais são as perspectivas desse encontro? Qual a posição do brasil? Que tipo de decisão será tomada em Paris?
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Entre os dias 30 de outubro e 6 de novembro ocorrerá o evento da Semana do Clima, que trata sobre as Mudanças Climáticas, Somos Todos Responsáveis é um evento organizado pela Delegação da União Europeia no Brasil, WWF-Brasil e Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro (Prefeitura do Rio de Janeiro), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, os Estados-Membros da UE no Brasil e suas instituições culturais.
Enfrentamos hoje o desafio de diminuir as emissões de gases de efeito estufa em um contexto de crescimento populacional. Trata-se de uma tarefa essencial para a sobrevivência do planeta. E estamos em um momento crucial, no qual precisamos mudar nossos hábitos
Durante oito dias, 20 organizações do Brasil e da Europa irão expor boas práticas reproduzíveis pelo cidadão individual, por comunidades, pela sociedade civil, pela administração pública, pelas empresas e por grupos artísticos. O objetivo do evento é contribuir para conter ou mitigar as mudanças climáticas, apresentando soluções e discussões nas seguintes frentes: água, energia, resíduos sólidos, uso da terra e agricultura, urbanismo e mobilidade urbana, segurança e clima. A exposição, que ocorre de 30 de outubro a 6 de novembro, é aberta ao público e gratuita.
O evento incluirá ainda uma conferência técnica, fechada, com especialistas do Brasil e da União Europeia. Também apresentará boas práticas reproduzíveis pelo cidadão, assim como por empresas, organizações, comunidades e governos. Durante a semana, 20 organizações irão contar sua história em uma exposição pública e em palestras, ambas com entrada livre.
Local: Rua Vice-Governador Rúbens Berardo, 100 - Gávea,Rio de Janeiro - RJ,22451-070
Saiba mais: Semana do Clima
Metas de redução de emissão de CO2 não deteriam aumento de 2°C. Novo acordo terá de passar por revisões periódicas, diz chefe da convenção.
Os planos de cerca de 150 países para reduzir as emissões de gases do efeito estufa vão desacelerar a mudança climática, mas as nações ainda precisam fazer mais para limitar a elevação das temperaturas globias a no máximo 2°C, disse a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta sexta-feira (30).
Cientistas alertam que o aquecimento precisa ficar abaixo desse nível no fim do século (em relação à temperaturas anteriores a 1850) para evitar os piores efeitos da mudança climática – como inundações, secas e elevação do nível do mar.
Os planos citados pela ONU serão a base de um acordo global para combater a mudança climática a ser assinado em dezembro em Paris.
Emissões
Essas estratégias nacionais seriam capazes de restringir o aumento das emissões dos 49 GtCO2/ano (bilhões de toneladas de CO2 por ano) de 2010 para o equivalente a 56,7 GtCO2/ano até 2030, quatro bilhões a menos do projetado caso nenhuma medida seja tomada, afirma um novo relatório.
"É um passo muito bom, mas não é suficiente", afirmou Christiana Figueres, chefe da UNFCCC, a convenção do clima da ONU, durante a apresentação do documento em Bonn, na Alemanha.
As promessas dos países, conhecidas como INDC (Intenções de Contribuição Nacionalmente Determinadas) serão os blocos de construção para um acordo na cúpula do clima de Paris, que será realizada de 30 de novembro a 11 de dezembro. O tratado vai guiar o combate ao aquecimento global a partir de 2020.
Sem projeção oficial
Christiana Figueres não afirmou qual temperatura provável o planeta terá em 2100, porque a maioria dos INDCs se estendem só até 2030. Mas a chefe da convenção do clima da ONU disse que análises independentes mostram que as promessas só limitariam o aumento de temperatura a 2,7°C, no mellhor cenário.
Segundo o IPCC (painel de cientistas do clima da ONU), isso já é um progresso, pois um cenário de emissões desenfreadas poderia levar o planeta a até mais 5°C.
Quase 200 governos concordaram em 2010 a limitar a 2°C graus acima dos níveis pré-industriais, implicando que Paris terá de estabelecer caminhos para aumentar as ações nos anos seguintes. O aumento na temperatura até agora já foi de cerca de 0,9°C.
Os negociadores terão de decidir em Paris como os INDCs serão incorporados pelo novo acordo e sobre como rever as promessas periodicamente, afirmou Figueres.
"Muitos países têm sido saudavelmente conservadores com relação ao que apresentaram", disse, lembrando que muitos países, particularmente a China, provavelmente atingirão redução de emissões maior do que as metas que propuseram.
Sinal para o mercado
O relatório desta sexta-feira é a tentativa mais oficial de tentar somar o impacto dos INDCs e foi bem recebido por grupos de investimento financeiro.
"Planos nacionais fortes dão o tipo de sinal vital de mercado requerido por formuladores de políticas quando os investidores querem reduzir os riscos de ativos encalhados no setor de combustíveis fósseis e fazer enormes investimentos em tecnologias de baixo carbono", afirmou Stephanie Pfeifer, chefe executiva do IIGCC (Grupo Internacional de Investidores para Mudança Climática).
Grupos ambientalistas afirmam que o acordo de Paris precisa ser o ponto de partida para cortes de emissões mais profundos.
"Insistimos que o acordo de Paris estabeleça um mecanismo para fazer países diminuírem mais suas emissões, sem atraso", disse Martin Kaiser, chefe de política do clima internacional do Greenpeace.
"O mundo precisa que Paris emita um sinal claro e inspirador de que o jogo está mudando, que todos os países estão levando a ciência do clima a sérdio, abraçando todo o potencial da enerigia limpa renovável e descontinuando os combustíveis fósseis."
Intenções nacionais
A maior parte dos quase 200 países signatários da Convenção do Clima já submeteu à ONU suas propostas de redução de emissões, incluindo grandes emissores como EUA, China, Índia, Brasile União Europeia.
Uma projeção feita sob encomenda da ONU sugere que, para que os 2°C sejam evitados, as emissões globais precisam começar a cair a partir de 2020. A soma das intenções dos países declaradas até agora, porém, indica um prolongamento do período de aumento de emissões.
Fonte: G1