Falta política para mudanças climáticas

Temperatura no Brasil pode aumentar de 3 a 6 graus até 2100

O Brasil já deveria estar se adaptando muito mais às mudanças climáticas, na opinião do secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Carlos Nobre. Pouco antes do lançamento oficial do primeiro relatório de avaliação nacional sobre clima, produzido pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), Nobre demonstrou ontem a preocupação com a necessidade de haver mais políticas públicas e ações da iniciativa privada brasileira sobre transformações no meio ambiente que são, segundo ele, inexoráveis.

Projeções do PBMC indicam que a temperatura média no Brasil será de 3 a 6 graus Celsius mais elevada em 2100 do que no final do século XX, dependendo do padrão futuro de emissões de gases de efeito estufa.

O relatório mostra também que na Amazônia e na Caatinga a quantidade de chuvas pode ser 40% menor e, nos Pampas, há uma tendência de aumento de um terço nos índices de chuvas.

Carlos Nobre reclama que apesar de o setor da agricultura brasileira tomar medidas de planejamento em relação às mudanças climáticas — porque os agricultores já estão sentindo na prática os efeitos das alterações no clima — em outras áreas não há ações sendo feitas.

—    O Brasil já deveria estar se adaptando muito mais às mudanças climáticas. Por exemplo: é inexorável que o nível do mar vai aumentar. Não sabemos exatamente quando. Até o final do século pode ser 50 cm, até 1 metro, 1,20 metro. Isso não tem mais como mudar. Mas o Brasil tem políticas de uso do espaço costeiro de convivência com esse aumento? Não. Até agora não tem. É como se o nível do mar não existisse — disse Carlos Nobre.

O secretário diz que se preocupa muito com o desenvolvimento de políticas de adaptação no Brasil que assegurem uma transição para um desenvolvimento sustentável a curtíssimo prazo.

—    Não é a médio prazo, dez anos, 20 anos, 30 anos — diz.

Segundo ele, o Ministério da Ciência e Tecnologia está fazendo o seu papel, de investir no desenvolvimento de pesquisas e geração de conhecimento, mas ainda falta uma maior integração entre pesquisas e criação de políticas. Na opinião dele, é preciso que outros setores do governo e outros agentes se mobilizem.

—    Eu espero que essa reunião do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas sirva como um despertar, para chamar a atenção dos formuladores e da sociedade em geral, porque não existe formulação de política pública que não seja através de uma pressão social — disse. — (O ministério de Ciência) é o ministério que oferece diagnósticos. E muitas das políticas não são nem federais, elas são estaduais, setoriais, ou têm que ser adotadas pela iniciativa privada —completou Carlos Nobre.«

Foto: Neiva Daltrozo / SECOM

Fonte: Clipping Seleção de ASCOM - GM

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