Por Fabiano Ávila
A primeira década deste novo século apresentou as temperaturas médias mais altas já registradas desde que começaram as medições modernas, em 1850. Além disso, mais recordes de calor foram batidos entre 2001 e 2010 do que durante qualquer outro período. Para piorar, o aumento do nível dos oceanos se deu em um ritmo duas vezes mais rápido do que nos 100 anos anteriores.
Essas são apenas algumas das constatações do recém-publicado “The Global Climate 2001-2010, A Decade of Climate Extremes”, da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
“O relatório mostra que o aquecimento global acelerou nas quatro décadas entre 1971 e 2010 e que a taxa de aumento entre 1991-2000 e 2001-2010 é sem precedentes. O aumento da concentração de gases do efeito estufa está transformando nosso clima, com implicações para nosso meio ambiente e oceanos, os quais estão absorvendo tanto dióxido de carbono quanto calor”, explica Michel Jarraud, secretário-geral da OMM.
De acordo com o documento, a concentração de CO2 na atmosfera subiu para 389 partes por milhão em 2010, um aumento de 39% com relação ao começo da Era Industrial. Vale lembrar que essa concentração atualmente está na faixa das 400ppm.
“Variabilidades climáticas naturais, causadas por interações entre nossa atmosfera e os oceanos – como evidenciadas pelo El Niño e La Niña – significam que alguns anos foram mais frios que outros. Observada em uma escala anual, a curva da temperatura global apresenta nuances. Mas em termos de longo prazo, a tendência é claramente para cima, ainda mais no período recente”, afirmou Jarraud.
A temperatura média global entre 2001-2010 foi estimada em 14,47°C, 0,47°C acima da média entre 1961-1990, que por sua vez já havia sido 0,14°C mais quente do que a década anterior.
Todos os anos da última década, com exceção de 2008, estão entre os dez mais quentes já registrados, sendo que 2010 apresenta o recorde histórico, com 14,54°C. Dos 139 países observados pelo relatório, 94% tiveram na década passada a mais quente já monitorada.
No Brasil, a anomalia de temperatura foi ainda mais elevada, com um aumento na média de 0,74 °C. Porém, coube à Groenlândia a maior anomalia, com 1,71°C, alta que foi ainda mais pronunciada em 2010, com espantosos 3,2°C acima da média.
Todo esse calor resultou, é claro, em um maior degelo nas regiões polares e nas cadeias de montanhas. O que, por sua vez, teve impacto na elevação do nível dos oceanos.
Segundo a OMM, o mar avançou uma média de três milímetros por ano, quase o dobro do observado durante o século XX, 1,6 milímetros. O nível atual dos oceanos está 20 centímetros acima do que estava em 1880.
As consequências de um planeta tão aquecido variam por região, mas não é à toa que a OMM batizou 2001-2010 da década dos extremos.
Foram observadas ondas de calor recorde na Europa, o furacão Katrina nos Estados Unidos, ciclones tropicais no Sudeste da Ásia, secas históricas na Amazônia, Austrália e África Oriental e enchentes no Paquistão, América do Sul e África.
De acordo com o relatório, 2001-2010 foi a década mais úmida desde 1901. Novamente 2010 aparece como o ano mais extremo, sendo o mais úmido já registrado na história.
Por isso, enchentes foram os eventos climáticos extremos mais frequentes durante a última década. Europa, Índia, Paquistão, Austrália e África apresentaram mais de uma crise com o excesso de chuvas. Apesar de o relatório não mencionar, vale destacar que em 2005 Santa Catarina sofreu a pior enchente de sua história, com mais de 200 mortos.
Secas e ondas de calor também foram mais frequentes do que a média do século passado, com praticamente todas as partes do planeta sofrendo com pelo menos um desses eventos na década passada.
Destaque para as secas na Amazônia em 2005 e 2010, confirmando tendências apontadas por outros estudos de que, com um planeta sob o aquecimento global, a região passará a ter estiagens mais intensas e frequentes.
Com relação a ondas de calor, a Europa e os Estados Unidos sofreram muito em 2003, 2005, 2008 e 2010, sendo registradas mortes de crianças e idosos. No Brasil, o relatório salienta a onda de calor entre janeiro e março de 2006, com a cidade de Bom Jesus, no Piauí, atingindo os 44,6°C.
No total, entre 2001 a 2010, mais de 370 mil pessoas teriam morrido como resultado de eventos e condições climáticas extremas, uma alta de 20% com relação à década anterior. Felizmente, já existe uma conscientização sobre problemas como ocupação de áreas de risco, e houve uma queda de 43% nas mortes por enchentes.
“Apesar da significante redução nas fatalidades resultantes de enchentes e tempestades, o relatório não deixa de destacar a alta taxa de mortalidade causada por ondas de calor na Europa e na Rússia. Dado que as mudanças climáticas devem levar a ainda mais intensas e frequentes ondas de calor, precisamos estar preparados”, disse Jarraud.
O “The Global Climate 2001-2010, A Decade of Climate Extremes” é gratuito e já está disponível para download.
Fonte: Instituto Carbono Brasil
Mais de 10% da população mundial poderá ser seriamente afetada em 2100 pelas consequências das mudanças climáticas, de acordo com um estudo internacional publicado nesta segunda-feira (1) pela revista da Academia Americana de Ciências, a “PNAS”.
A investigação científica identificou os principais locais afetados pelo aquecimento global em todo o mundo a partir da medição de aspectos fundamentais da vida humana -- como a cultura, o acesso à agua, ecossistemas ou a saúde. Quanto mais prejuízo nesses setores, maior o impacto da mudança climática.
O cenário utilizado pelos cientistas leva em conta a não redução das emissões de gases de efeito estufa e uma a temperatura de cerca de 4 ºC maior em relação ao período entre 1980 e 2010.
Segundo o estudo, o sul da Amazônia registrou a maioria dos locais severamente impactados. A previsão indica mudanças importantes nas condições de acesso à água potável, à agricultura e risco aos ecossistemas. A segunda região mais afetada é o sul da Europa, devido a uma maior dificuldade de acesso a recursos hídricos e prejuízo na colheita.
Outros “pontos quentes” do mundo estariam na América Central e em regiões tropicais da África e partes da Etiópia. Algumas partes do sul da Ásia também sofreriam devido ao prejuízo na agricultura, além de dificuldades de acesso à água potável.
Os dados foram levantados por uma equipe de cientistas do Instituto de pesquisa sobre o clima de Potsdam, na Alemanha. “As consequências da mudança climática em diferentes aspectos cruciais podem interagir entre si e multiplicar a pressão gerada nos habitats das populações em regiões afetadas”, disse Franziska Piontek.
O estudo é o primeiro a identificar pontos específicos do impacto da mudança climática, baseando-se em simulações computacionais, tanto para as alterações do clima quanto para seus impactos atuais.
De acordo com a pesquisa, os efeitos começam a ser sentidos quando for registrado aumento da temperatura em 3 ºC em relação à média registrada no período entre 1980 e 2010.
Fonte: Globo Natureza
Por Elaine Bast
EUA - O presidente Barack Obama apresentou nesta terça-feira (25) uma ambiciosa plataforma para combater mudanças climáticas, começando pelas emissões, nos Estados Unidos, dos gases que provocam o efeito estufa.
A Casa Branca nunca assinou o tratado internacional para diminuir a emissão de dióxido de carbono. Hoje, as usinas termelétricas americanas emitem mais de um de terço dos gases que provocam o efeito estufa no país.
Muitas funcionam com carvão, o que mais polui. Segundo o presidente Barack Obama, os americanos já estão pagando o preço da falta de ação nas questões ambientais. Em 2012, a economia americana teve um prejuízo de US$ 100 bilhões por conta de desastres naturais.
"97% dos cientistas admitem que a ação humana tem impacto no aquecimento global", disse Obama. "Por isso, a questão não é mais se devemos agir, mas sim se teremos coragem de agir antes que seja tarde".
A agência de proteção ambiental americana tem papel importante no novo plano de ação, e deverá estabelecer metas para reduzir a poluição causada pelas usinas que já existem no país. Até a metade do ano que vem, os limites de emissão de dióxido de carbono dessas usinas deverão ser definidos. O plano prevê ainda modernizar a rede elétrica e dar crédito para projetos que tenham como meta substituir o uso do combustível fóssil por energia limpa.
Tendo como base o que era emitido em 2005, a ideia é que os Estados Unidos consigam reduzir em 17% as emissões de gases que causam o efeito estufa até 2020.
Fonte: O Globo
Foto: Barack Obama (www.politico.com)
Por Danielle Nogueira
RIO – O economista americano Jeffrey Sachs, assessor do secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, prevê crescimento anual de 2% a 2,5% ao ano para os EUA, o que permitirá o desmonte da política de estímulos do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). Ele também está confiante no crescimento das economias emergentes. Sachs esteve no Rio ontem para o lançamento da rede de cidades sustentáveis da ONU.
A economia americana está se recuperando a um ritmo que permita ao Fed reduzir seu programa de estímulos?
Os EUA devem crescer a longo prazo a um ritmo de 2% a 2,5% ao ano. O corte de de estímulos evidentemente vai elevar a taxa de juros um pouco e poderia desacelerar levemente o crescimento. Por outro lado, o quantitative easing (programa do BC americano de afrouxamento monetário) poderia continuar a distorcer o mercado global de capitais. Acredito que o programa vai ser gradualmente removido, mas não acredito que o Fed permitirá um aperto do crédito.
Na China, devemos esperar uma intervenção do BC para assegurar liquidez?
A crise de liquidez na China é definitivamente um golpe na economia. Provavelmente haverá necessidade de mais intervenção do banco central para evitar um aperto do crédito. O BC aparentemente deixou uma porta aberta para um ajuste fino, o que pode sugerir novas injeções de crédito.
China e Brasil estão crescendo menos. É uma tendência?
Acredito que isso seja uma fase transitória. Estou otimista quanto às economias emergentes. A convergência das economias emergentes no sentido de ocuparem a posição de liderança do crescimento da economia global provavelmente vai continuar num horizonte de cinco a dez anos.
Se a economia americana está melhorando, haverá migração em massa de recursos dos emergentes para os EUA?
Investidores são volúveis, certamente, mas os fundamentos sugerem, para mim, a continuidade do crescimento das economias emergentes a taxas acima daquelas das economias avançadas. Neste caso, os investidores pessimistas de hoje voltarão a ser otimistas de novo.
A desaceleração econômica pode ser considerada um pano de fundo da eclosão de protestos no Brasil?
Os movimentos têm explodido em várias partes do mundo, por inúmeras razões. Aqui houve uma questão ligada às tarifas de ônibus. Nos Estados Unidos, tivemos o movimento do Ocupem Wall Street, que se espalhou pelo país. Em Estocolmo, o problema é a imigração. O que percebemos é que há uma insatisfação das pessoas em relação a seus líderes. Eles terão que repensar a forma como estão respondendo às reais demandas da população.
O senhor integra um programa da ONU que busca criar uma rede de cidades para pensar soluções sustentáveis. Tratar desses temas em nível municipal seria uma forma diferente de abordagem política de velhos problemas?
Depois da Rio +20, a ONU decidiu estabelecer metas globais de sustentabilidade, como foi feito com as Metas do Milênio. É uma agenda pós-2015. Foram criados 12 grupos de trabalho, um deles o de cidades sustentáveis. Neste caso, uma das iniciativas é a criação de uma rede para pensar soluções locais que podem ser replicadas em outras cidades do mundo. O Rio é a primeira cidade a integrar a rede. Nova York, Estocolmo, Bangalore (Índia) e Acra (Gana) também devem integrá-la. São cidades que são ícones globais.
Fonte: O Globo