Este é o momento exato para falarmos de mudanças climáticas e de todas as outras injustiças sistêmicas – do perfilamento racial à austeridade econômica – que transformam desastres como o Harvey em catástrofes humanas.
Quem assiste à cobertura do furacão Harvey e das enchentes de Houston ouve muita gente dizendo que essa é uma tempestade sem precedentes; que ninguém conseguiu prevê-la e, portanto, se preparar adequadamente para ela.
Mas fala-se muito pouco dos motivos pelos quais esses eventos climáticos sem precedentes, que quebram recordes, estão acontecendo com tanta frequência – a ponto de a expressão “recorde” já ter se tornado um clichê meteorológico. Em outras palavras, não vamos ouvir muito, se é que vamos ouvir alguma coisa, sobre mudanças climáticas.
Dizem que isso vem de um desejo de não “politizar” uma tragédia humana no momento em que ela acontece. É até um impulso compreensível. Mas acontece o seguinte: cada vez que agimos como se um evento meteorológico sem precedentes nos atingisse do nada, um tipo de ato divino que ninguém previu, nós repórteres tomamos uma decisão altamente política. Decidimos poupar os sentimentos das pessoas e evitar controvérsias em vez de dizer a verdade, por mais difícil que seja. E a verdade é que esses eventos têm sido previstos há muito tempo por cientistas climáticos. Oceanos mais quentes provocam tempestades mais intensas. A elevação do nível do mar leva temporais a locais inéditos. Mais calor gera climas extremos: longos períodos secos são interrompidos por neve ou chuva pesadas, e os padrões não são mais tão previsíveis quanto eram.
Fonte: theintercept.com