
Christiana Figueres, ex-Secretária Executiva da Convenção do Clima e responsável por muito da articulação climática internacional, é coautora de um artigo no qual define seis metas globais para que o mundo consiga - até 2020 - entrar em rota de controle do aquecimento global. Nas palavras do físico Paulo Artaxo, “temos no máximo três anos para agir concretamente para proteger o clima de nosso planeta. Ótimo artigo na Nature... discute o que podemos fazer e quanto tempo temos para reverter o quadro em áreas críticas:”
- ENERGIA: as energias renováveis devem chegar a pelo menos 30% do fornecimento de eletricidade no mundo, contra os 23,7% em 2015. Nenhuma usina a carvão pode ser construída depois de 2020 e todas as existentes deverão estar sendo aposentadas.
- INFRAESTRUTURA: cidades e estados devem ter começado a implantar até 2020 seus de ação para descarbonizar completamente edifícios e infraestruturas até 2050, o que deve demandar financiamento de US $ 300 bilhões anualmente. As cidades deverão reformar, a cada ano, pelo menos 3% do estoque de construções para estruturas de emissão zero ou quase zero.
- TRANSPORTE: até 2020, os veículos elétricos deverão ser responsáveis por pelo menos 15% das vendas de automóveis novos em todo o mundo, um aumento importante sobre a atual participação no mercado que está por volta de 1%, entre veículos híbridos ou totalmente elétricos. Também serão necessários compromissos para uma duplicação da utilização do transporte público nas cidades, um aumento de 20% na eficiência de queima de combustível nos veículos pesados e uma redução de 20% nas emissões de gases de efeito estufa da aviação por quilômetro percorrido.
- USO DA TERRA: até 2020 deverão estar implantadas políticas de uso da terra que reduzam a destruição das florestas e promovam o reflorestamento e recuperação florestal. As emissões líquidas atuais decorrentes do desmatamento e das mudanças no uso do solo representam cerca de 12% do total global de emissões. Se até 2030 reduzirmos estas emissões a zero e o reflorestamento e a restauração florestal estiverem operando como um sumidouro de carbono, ajudaremos a empurrar as emissões globais líquidas totais para zero, ao mesmo tempo em que daremos suporte aos estoques de água e teremos outros co-benefícios. As práticas agrícolas sustentáveis podem reduzir as emissões e aumentar o sequestro de CO2 em solos saudáveis e bem geridos.
- INDÚSTRIA: a indústria pesada deverá estar, até 2020, desenvolvendo e publicando planos para aumentar a eficiência da produção e para cortar suas emissões à metade antes de 2050. As indústrias de uso intensivo de carbono - como o ferro e aço, cimento, produtos químicos e petróleo e gás - emitem hoje mais de 1/5 do CO2 mundial, sem contar as associadas à eletricidade e a geração de calor para seus processos.
- FINANÇAS: até 2020 o setor financeiro deve ter repensado a forma como investe capital e passar a mobilizar pelo menos US$ 1 trilhão por ano para a ação climática. A maioria dos recursos deverá vir do setor privado. Os governos, os bancos privados e os credores, como o Banco Mundial, precisarão emitir muitos mais "títulos verdes" (green bonds) para financiar os esforços de mitigação do clima. Isso criaria um mercado anual que, até 2020, processa mais de 10 vezes os US$ 81 bilhões de títulos emitidos em 2016.
Christiana e os demais autores reconhecem que os objetivos definidos podem ser considerados idealistas, na melhor das hipóteses, ou pouco realistas na pior. No entanto, eles dizem que estamos na era da transformação exponencial e acham que esse foco desencadeará a engenhosidade dos atores econômicos.
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