O Centro Nacional de Dados sobre Gelo e Neve dos EUA (NSIDC, na sigla em inglês) e a Nasa informaram nesta segunda-feira (27/08) que a camada de gelo do Ártico alcançou uma baixa histórica. O gelo estende-se agora por 4,1 milhões de metros quadrados, a menor área registrada desde que os satélites começaram as medições, em 1979.
A camada diminuiu 70 mil quilômetros quadrados desde o último recorde, registrado em 2007. A redução deixa cientistas e ambientalistas em alerta, pois o gelo do Ártico é considerado vital para o planeta. Ele funciona como uma espécie de ar-condicionado, refletindo o calor do sol para o espaço e ajudando a manter a temperatura global.
"É provável que iremos superar significativamente a diminuição recorde este ano", disse Walt Meier, cientista do centro de dados em Boulder, no Colorado. Espera-se que a camada diminua até a segunda quinzena de setembro, quando ao derretimento de verão costuma chegar ao fim.
Segundo Meier, antes, a camada de gelo do Ártico formava um grande bloco – derretendo um pouco em suas bordas, mas bastante sólido. "Agora é como gelo moído. Pelo menos partes do Ártico se transformaram numa gigante raspadinha de gelo, muito mais fácil e rápido de derreter."
Pior do que o previsto
O degelo foi mais rápido do que o previsto até mesmo nos piores cenários climáticos, de acordo com Michael E. Mann, cientista da Penn State University e principal autor de um relatório da Organização das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, de 2001.
"Os modelos previram basicamente que não veríamos o que estamos vendo agora por muitas décadas", disse Mann. "Há uma quantidade de áreas onde as mudanças climáticas parecem estar de fato ocorrendo mais rápido e em maior magnitude do que o previsto."
Waleed Abdalati, cientista-chefe da Nasa, afirma que a marca recorde é um sinal de que, em breve, o Polo Norte não teria mais uma cobertura de gelo significante durante os meses de verão.
"Por que deveríamos nos preocupar? Porque esse gelo foi um fator-chave para criar as condições climáticas e meteorológicas sob as quais a sociedade moderna se desenvolveu", alerta.
Um estudo publicado este ano na revista científica Geophysical Research Letters apontou correlações entre o derretimento do Ártico e eventos climáticos extremos, como secas, inundações e ondas de frio e de calor.
Alerta do Greenpeace
O derretimento de gelo indica que o planeta está "esquentando a um ritmo que coloca o futuro de bilhões de pessoas em risco", afirmou Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace, nesta segunda-feira.
"Esses números não são o resultado de um capricho da natureza, mas efeitos do aquecimento global provocado pelos seres humanos, causado por nossa dependência de combustíveis fósseis poluentes", disse.
Estima-se que o Ártico abrigue um terço das reservas ainda não descobertas de petróleo e gás natural. Com o derretimento da camada de gelo, navios cargueiros adentram cada vez mais águas antes inacessíveis, encurtando viagens entre a China e a Europa, por exemplo.
Fonte: DW / Revisão: Carlos Albuquerque
Mais uma vez a educação está no centro das atenções como solução para os problemas do país. A educação da sociedade é parte da prevenção ou adaptação aos desastres climáticos - uma das mais impactantes realidades ambientais do planeta no momento.
O envolvimento da sociedade foi fator destacado como de importância fundamental nos debates doWorkshop Internacional realizado pela FIRJAN e pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas/COPPE-UFRJ. A mesa foi mediada por Andrea Santos, do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.
O workshop ocorreu durante o Fórum Eco Serra, realizado pelo Sistema FIRJAN e pelo SEBRAE, com patrocínio da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), Centro de Educação Ambiental (CEA), EBMA, Energisa, Holcim, Lafarge, Votorantim; e apoio do Sindmetal, Sinduscon, Sindvest e Prefeitura de Nova Friburgo.
Intensidade e a freqüência dos eventos climáticos irão aumentar
“Nossa interferência no ambiente é contínua. Precisamos saber como lidar com os resultados desse impacto. Espero que esse encontro seja muito proveitoso para todos”, disse a presidente da FIRJAN Regional, Nelci Layola Porto, que contou também sua experiência no Chile, quando a população de uma cidade litorânea aguardava um tsunami em março do ano passado.
“Quando pensamos em um evento como esse, o pano de fundo foi o que aconteceu em janeiro de 2011. No ano passado, tivemos 292 eventos extremos no planeta, 218 associados a questões climáticas. Mais do que nunca é importante debater o assunto em vários níveis. Não é um problema só de governo, é de todo mundo. O improviso predomina quando acontece algum problema, parece que temos que inventar novamente a roda”, disse o conselheiro da FIRJAN e idealizador do evento, Vicente Bastos.
“É fato que a intensidade e a freqüência dos eventos climáticos vão aumentar”, iniciou a representante da Secretaria Estadual do Ambiente, Marcia Real. “São fenômenos muito complexos. Não é possível prever exatamente onde, quando e em que magnitude acontecerão”, afirmou ela.
“Esse é um evento de extrema importância para o mundo e para o Brasil. O mundo sempre ouviu falar de mitigação dos problemas efeito estufa, precisamos pensar na adaptação aos desastres climáticos. Estamos no início de um processo de aprendizado e queremos levar as reflexões de hoje para um evento sobre clima que teremos no Rio de Janeiro a partir de 11 de junho”, disse Andrea Santos, doPainel Brasileiro de Mudanças Climáticas, organizador do Workshop junto com a FIRJAN.
“As ações são difíceis, precisamos ver quais as lições aprendidas. E precisamos da sociedade: como seremos capazes de oferecer redes de cooperação?”, indagou o Secretário Estadual de Saúde e Defesa Civil, Sergio Cortes, presente ao evento, representando o vice-governador Luiz Fernando Pezão.
A importância da Educação
A primeira palestra do dia foi do Professor Paulo Canedo, que reforçou a importância da educação da sociedade para cooperar com os técnicos especialistas e o governo na prevenção dos efeitos dos desastres. “Não estamos preparados para alarmes, por exemplo. A sociedade brasileira não tem preparo para isso. É um obstáculo que precisa ser superado”, disse o professor, que tratou de diversos aspectos da questão climática na Região Serrana. “Nesse terreno das mudanças climáticas os técnicos ainda têm muita insegurança. Ainda temos muito mais perguntas do que respostas”, resumiu Canedo.
Novos painéis se seguiram ao longo do dia. Os chefes de bombeiros do Reino Unido, John Hindmarch, e da Dinamarca, Kim Lintrup, compartilharam experiências importantes para mitigar os efeito e reduzir os riscos de desastres.
Ficou bastante claro que ter um sistema de emergência abrangente e devidamente estruturado nos diferentes níveis governamentais e com a participação da sociedade é principal instrumento para qualquer plano de prevenção de risco.
Fonte: FIRJAN
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Apesar de necessitar de mais estudos para reiterar evidências e esclarecer algumas incertezas sobre os níveis de confiança de algumas previsões, as conclusões do Relatório Especial sobre Gestão dos Riscos de Eventos Climáticos e Desastres (SREX, na sigla em inglês) – elaborado e recentemente divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – podem ser corroboradas pela maior ocorrência de eventos climáticos extremos em diferentes regiões do mundo, como a atual seca nos Estados Unidos, e pelo aumento de gastos realizados nos últimos anos por países como o Brasil para sanar os prejuízos causados por enchentes e deslizamentos provocados por chuvas intensas.
A avaliação foi feita por pesquisadores participantes do workshop “Gestão dos riscos dos extremos climáticos e desastres na América do Sul – O que podemos aprender com o Relatório Especial do IPCC sobre os extremos?”, realizado nos dias 16 e 17 de agosto, em São Paulo.
Realizado pela FAPESP e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em parceria com o IPCC, o Overseas Development Institute (ODI) e a Climate and Development Knowledge Development (CKDN), ambos do Reino Unido, e apoio da Agência de Clima e Poluição e do Ministério de Relações Exteriores da Noruega, o objetivo do evento foi debater as conclusões do SREX e as opções para o gerenciamento dos impactos dos extremos climáticos, especialmente nas Américas do Sul e Central.
Uma das principais conclusões do relatório, elaborado pelo IPCC a pedido do governo da Noruega e da Estratégia Internacional para a Redução de Desastres (EIRD), da Organização das Nações Unidas (ONU), é o aumento na frequência de eventos climáticos extremos no mundo nas últimas décadas em função das mudanças climáticas.
Consequentemente, também aumentaram os impactos socioeconômicos desses fenômenos nos últimos anos devido a maior vulnerabilidade e exposição da população humana a eles, em função de fatores como o aumento desordenado da urbanização em regiões como a América do Sul.
Entretanto, de acordo com os pesquisadores, há incertezas a respeito de se alguns fenômenos climáticos extremos tendem a ocorrer em escala global, devido à escassez de dados.
O relatório indica, por exemplo, que é muito provável um aumento na frequência de dias e noites quentes nos próximos anos em diferentes regiões do planeta, tendência já detectada em observações meteorológicas realizadas em grande parte das regiões Sul e Sudeste do Brasil e no sudeste da América do Sul.
Por outro lado, o documento aponta dúvidas em relação ao aumento da frequência de chuvas intensas em todo o mundo, indicando regiões que apresentam aumento e outras onde ocorreu redução do evento climático – o que impossibilita generalizar a conclusão de que o fenômeno deve acontecer mais frequentemente em todo o planeta.
Contudo, as chuvas torrenciais em São Paulo com maior frequência nas últimas décadas indicam que têm ocorrido mais fortes precipitações de chuvas, pelo menos em escala regional.
“Se ainda há incertezas sobre a tendência de aumento da frequência de chuva em escala global, no caso de São Paulo não restam dúvidas de que as chuvas intensas têm aumentado muito na cidade nos últimos 50 ou 70 anos”, disse Carlos Nobre, secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e do IPCC e um dos autores do SREX.
“Hoje temos três vezes mais chuvas intensas, que causam enchentes e desastres em São Paulo, do que há 70 anos. E as evidências de que esse tipo de evento climático extremo ocorre com maior frequência na capital paulista estão muito bem documentadas”, afirmou Nobre.
Em função de existir evidências mais concretas e consistentes do aumento na frequência de chuvas intensas em São Paulo nas últimas décadas, de acordo com Nobre, a cidade poderia servir como um laboratório excelente para a realização de estudos que relacionem os impactos socioeconômicos causados pelo aumento da frequência de eventos climáticos extremos com o nível de exposição e vulnerabilidade das populações a eles, de modo a reiterar as conclusões do IPCC.
“Seria muito interessante realizar pesquisas para quantificar as enormes mudanças climáticas em São Paulo causadas pelo impacto da urbanização e do efeito de ilha urbana de calor na cidade”, avaliou Nobre.
Nobre deu alguns exemplos de estudos publicados recentemente por pesquisadores do Estado de São Paulo que relacionam o aumento nos riscos à população causados pela maior frequência de chuvas intensas.
Um dos estudos apontou um aumento do número de áreas suscetíveis a alagamentos e que apresentam risco mais elevado de deslizamentos de terra na capital paulista. Outro estudo demonstrou que, com a urbanização, as áreas de chuva intensa se expandem e aumenta o risco de contaminação por leptospirose – doença transmitida pela urina do rato.
Já uma pesquisa feita no Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, em parceria com o Inpe, identificou que Campinas e Ribeirão Preto são as duas regiões no Estado de São Paulo que apresentam maior vulnerabilidade às mudanças climáticas nas próximas décadas.
A grande concentração populacional em Campinas potencializa as consequências de uma enchente. Já no caso de Ribeirão Preto, além de ser populosa, a região deverá registrar temperaturas mais altas nas próximas décadas.
“Podemos discernir em algumas regiões os impactos socioeconômicos causados pela aceleração dos eventos climáticos extremos, que estão associados a maior vulnerabilidade das populações em função da crescente urbanização do mundo e, em particular, das cidades da América Latina, onde esse processo ocorreu nas últimas décadas de forma caótica”, avaliou Nobre.
Segundo ele, no Brasil, por exemplo, os recursos para reconstrução de regiões assoladas por desastres causados por eventos climáticos extremos tiveram uma evolução muito rápida nos últimos dez anos e ultrapassaram o patamar de R$ 1,6 bilhão em 2011. “O impacto econômico dos desastres causados por eventos climáticos extremos já é sensível no país”, afirmou.
Alguns dos exemplos dados pelos pesquisadores para ilustrar o aumento da frequência de eventos climáticos extremos no Brasil nos últimos anos são a baixa umidade do ar registrada atualmente no Centro-Oeste do país e no sudeste de São Paulo, além das constantes enchentes no verão em São Paulo, Rio de Janeiro e em outras regiões do oeste do Brasil, e das secas no oeste da Amazônia.
Já no exterior, a seca que atinge os Estados Unidos atualmente é apontada pelos pesquisadores como um exemplo bastante consistente de evento climático extremo de ocorrência e dimensões raras, que corrobora as conclusões do SREX.
“É um evento climático que talvez ocorre somente a cada cem anos e que provoca um enorme impacto econômico e social, na medida em que perturba todo o sistema de preço de commoditiesagrícolas e afeta, inclusive, a segurança alimentar do país”, avaliou Nobre.
De acordo com Nobre, a seca nos Estados Unidos não foi documentada no SREX, mas deve ser incluída no próximo relatório do IPCC, previsto para ser publicado em 2013, que deve esclarecer algumas das incertezas sobre o nível de confiança de algumas previsões apontadas no documento atual.
“Muitas das informações publicadas no SREX serão atualizadas no quinto relatório do IPCC, por meio do qual esperamos ter uma melhor compreensão dos eventos climáticos extremos”, disse kprescé Marengo, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe, membro do IPCC e um dos autores do SREX.
As palestras realizadas no workshop “Gestão dos riscos dos extremos climáticos e desastres na América do Sul" estão disponíveis em: www.fapesp.br/ipccsrex/program
Fonte: Agência FAPESP