No dia 17 de Novembro, em São Paulo, ocorreu o evento "EXAME Fórum de Sustentabilidade", contando com a participação do economista e filósofo Eduardo Giannetti, o pesquisador Luiz Pinguelli, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e diretor da Coppe e a pesquisadora Suzana Kahn.
O “EXAME Fórum de Sustentabilidade" ocorre às vésperas da COP-21 em Paris, o evento internacional que ocorrerá nos dias 7 e 8 de dezembro e que reunirá representantes de cerca de 200 países para discutir um acordo global para redução de gases do efeito estufa, 137 países já anunciaram suas metas.
A presidenta Dilma Rousseff anunciou em setembro, na Cúpula da ONU, a meta brasileira de redução de 37% das emissões até 2025, na comparação com os níveis registrados em 2005. Dessa forma, até 2030, o Brasil contribuirá para reduzir o aquecimento global em 43%. Sobre a meta estabelecida para o Brasil a especialista Suzana Kahn declara: "A meta brasileira é tímida porque considera como base o ano de 2005, que registrou um dos maiores picos de desmatamento da Amazônia.".
A expectativa é que essa meta seja um ponto de partida e não um fim para que o país alcance sua economia verde. O evento EXAME Fórum de Sustentabilidade discutiu os meios para que o país alcance essa economia verde e o potencial de crescimento econômico que eles são capazes de trazer para o país.
Leia a matéria completa na EXAME – Edição 1102, ano 49, nº 2, 25/11/2015
Suzana Kahn: “Para as próximas décadas, 71% da energia do país virá de combustíveis ligados ao petróleo, algo que vai na contramão dos investimentos das grandes potências e países em desenvolvimento”
São Paulo – Um dos principais entraves climáticos, a emissão de gases estufadeve ser um dos principais assuntos da COP 21, principal encontro entre líderes mundiais para debates sobre clima, marcado para o final desse mês na cidade de Paris, na França.
Para discutir a questão por aqui, o EXAME Fórum Sustentabilidade 2015 promoveu uma roda de conversa nesta terça-feira (17) sobre maneiras de manter a busca pelo desenvolvimento gerando uma pegada de carbono cada vez menor e o papel do Brasil neste missão.
A mesa contou com Luíz Pinguelli, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, e Suzana Kahn, professora especialista em meio ambiente e ex-representante da ONU em mudança climática.
O principal fator em discussão foi uma mudança de discurso dos governantes sobre o assunto na última década. Se há 10 anos havia chefes de estado que refutavam quaisquer efeitos da ação do homem no clima, hoje não há mais como negar. Significa um avanço de mentalidade.
No Brasil, a presidente Dilma Rousseff anunciou em setembro que as metas brasileiras para reduzir a emissão de gases de efeito estufa são de 37% até 2025 e de 43% até 2030. Entretanto, o plano de utilização das fontes de energia ainda é majoritariamente fóssil, contrariando a tendência internacional.
“Para as próximas décadas, 71% da energia do país virá de combustíveis ligados ao petróleo, algo que vai na contramão dos investimentos das grandes potências e países em desenvolvimento”, diz Suzana Kahn.
“Os custos de energia fotovoltaica caíram pela metade nos últimos cinco anos, então há um movimento de preços para novas fontes de energia e novas tecnologias”, afirma Suzana. “Aumentando a participação de fontes mais limpas, os investimentos em fontes emissoras de carbono ficará reduzido.”
Suzana analisa ainda as propostas do Brasil para a COP 21, mostrando que o prognóstico mudou pouco desde a edição da convenção de 2009.
“Não dá para ter mudanças tão radicais nesse meio tempo, mas o importante é que há a intenção dos países de reduzir as emissões”, diz. “Essa vontade é fundamental, pois acertar um tratado ou acordo com metas mexe com a soberania nacional de grandes potências sem garantir as capacidades nacionais de desenvolvimento. Ninguém ia querer entrar nisso.”
As formas de conciliar esse desenvolvimento no país com a redução das emissões de gases foram tema de estudo de Pinguelli. Em “Implicações Econômicas e Sociais da Mitigação de Gases”, o estudioso montou uma equipe com representantes de governo, universidades, empresários e ONGs para montar três cenários de ações e investimentos para diminuir a carga de poluentes emitidas pelo país.
“São cenários otimistas, sim, mas a ideia era mostrar que mesmo estes são possíveis de realizar”, afirma Pinguelli. As principais ações seguem tendências internacionais e seguem o princípio de substituição de combustíveis fósseis por energias alternativas, como a eólica e solar.
“Não adianta querer fazer uma usina concentrada de energia solar, ela tem por caráter ser disseminada. Se comparar custos de megawatt/hora de uma Belo Monte, a energia solar fica inviável. Mas se disseminar essa fonte e cada residência, edificício, shopping e outros empreendimentos tiverem uma produção individualizada, torna-se possível”, diz. “O problema é o investimento que ainda é caro.”
Para os pesquisadores, o país ainda tem um longo caminho a seguir, mas com demonstrações de que o investimento em políticas verdes não será em vão, é possível mobilizar o mercado nesse sentido. Basta que haja regras mais claras de incentivo.
“O que não pode é acontecer de novo o que aconteceu com o setor de combustíveis”, diz Pinguelli. “Com uma política, o governo prejudicou a Petrobras, que tinha que comprar caro e vender barato, e o produtor de álcool, que perdeu competitividade de seu produto.”
Fonte: Exame
Pode até ser que combater as mudanças climáticas não reduza em nenhum milímetro os riscos do terrorismo no mundo. Mas deixar que o mundo fique mais quente e com o clima instável pode ser combustível para a ocorrência cada vez maior desses conflitos
Quando vi as primeiras notícias do ataque terrorista a Paris na última sexta-feira, que matou 129 pessoas e deixou centenas de feridos e milhões de pessoas assustadas e com medo, não pude evitar: meu primeiro pensamento foi sobre como isso afetaria a Conferência do Clima da ONU, marcada para começar, naquela mesma Paris, somente pouco mais de duas semanas após o atentado.
Não que eu não estivesse profundamente abalada e chocada pelo alcance do terror, pelo drama humano, pelo desespero e a tristeza. Mas não vou me meter a palpitar sobre o que não é a minha praia. Mas clima é, e os eventos da última sexta se chocaram diretamente com ele.
Meu primeiro pensamento foi que a conferência poderia ser cancelada, visto que está prevista, para a sua abertura, no dia 30, a presença de mais de 120 chefes de Estado – Obama, Dilma, Merkel, Putin, e os presidentes de China e Índia incluídos.
E depois me dei conta que nada passaria mais um atestado de derrota do que cancelar a cúpula, então ela muito provavelmente seria mantida. E de fato isso aconteceu. Pelo menos até o momento. Mas muito do que dá cor, graça e, acima de tudo, humanidade para o problema das mudanças climáticas pode ser cancelado.
Nesta quinta-feira o governo francês informou que, por questões de segurança devido aos trágicos eventos de sexta, não vai autorizar as marchas que estavam previstas para tomar as ruas de Paris no dia 29 de novembro, antes de a conferência começar, e 12 de dezembro, quando ela estará acabando.
ONGs ambientalistas que estavam organizando os eventos estavam esperando reunir pelo menos 200 mil pessoas pra fazer pressão para que os governantes adotassem medidas ousadas de corte de emissão dos gases de efeito estufa.
Os grupos agora estão buscando alternativas para se manifestar. “Convocamos as pessoas em todo o mundo a se juntar e marchar por nós em solidariedade, para expressas nossas demandas e ecoar nossas vozes”, disse Alix Mazounie, da RAC France, em comunicado distribuído pela Coalização Clima 21, que organizava os eventos.
Marchas em mais de duas mil cidades em 150 países estão marcadas para o dia 29, sendo que as maiores devem acontecer em Londres, Berlim e São Paulo estão mantidas. A marcha em São Paulo sai da avenida Paulista às 14h e vai até o Parque do Ibirapuera.
Alguém pode argumentar que não faz sentido lamentar por duas marchas ou por um eventualcancelamento da conferência diante dos acontecimentos e dos riscos. Afinal, o que é o aquecimento global diante do terrorismo?
A questão não é o clima, nem é o “ambiente” – como muita gente acha que é o compartimento onde se encaixa essa discussão. Mudanças climáticas são sobre economia, moradia, segurança hídrica, segurança alimentar. São sobre saúde e migração. Sobre milhões de pessoas sendo deslocadas de suas casas.
Combatê-las significa permitir que o planeta seja um lugar melhor. Pode até ser que isso não reduza em nenhum milímetro os riscos do terrorismo no mundo. Mas deixar que o mundo fique mais quente e com o clima instável pode ser combustível para a ocorrência cada vez maior desses conflitos.
Fonte: Estadão
Pesquisadores estão indo a campo por conta própria para coletar amostras, resgatar animais e analisar o verdadeiro impacto ambiental do tsunami de lama que varreu a bacia do Rio Doce
Centenas de cientistas brasileiros estão se organizando, voluntariamente, para fazer uma avaliação independente do impacto ambiental causado pelo rompimento das barragens de Mariana. Muitos deles se deslocaram para os locais atingidos pelo desastre e estão coletando dados e amostras para análise, num esforço que lembra o de médicos voluntários ajudando vítimas de um terremoto (neste caso, um tsunami de lama). Um grupo foi criado no Facebook para organizar os esforços e uma iniciativa de crowdfunding foi lançada para financiar as análises e a elaboração do relatório: http://goo.gl/1xEPnj
“Considerando que este é um dos maiores desastres ambientais sofrido pelo Brasil, envolvendo rios e as populações a sua volta, abrangendo vários municípios, que as posturas das instituições públicas são vagas e o poder econômico dos envolvidos, é de extrema importância que exista um relatório independente e isento, que possa ser utilizado nas ações decorrentes relacionadas aos efeitos do rompimento das barragens”, diz a proposta de crowdfunding na internet, que visa a arrecadar R$ 50 mil. “O relatório final será de domínio público, constituindo-se em ferramenta para que este desastre não fique impune.”
A iniciativa partiu do biólogo Dante Pavan, especialista em répteis e anfíbios formado pelo Instituto de Biociências da USP, e está sendo coordenada por Viviane Schuch, microbióloga e pesquisadora da Unifesp.
Um grupo criado no Facebook para compartilhar informações e notícias sobre o desastre tinha mais de 3 mil membros na segunda-feira (16) de manhã:https://m.facebook.com/giaia2015. (OBS: Nem todos são pesquisadores. Com a divulgação da notícia, muita gente interessada no assunto se inscreveu no grupo.)*
“Muitos profissionais estão neste momento em campo com recursos próprios. Através do Facebook, houve a organização das equipes, de forma a se otimizar as coletas de amostras de água e sedimentos. Algumas coletas foram realizadas antes da chegada da lama, e outras estão sendo feitas agora, após a chegada. Nosso objetivo é conseguir parcerias com laboratórios para que sejam feitas análises de metais pesados, poluentes e de metagenômica. Muitos laboratórios de dentro e de fora do Brasil já demonstraram interesse, até porque existe um claro apelo científico”, disse ao Estado o biólogo Alexandre Martensen, que não foi ao local do desastre mas participa da iniciativa online, na Universidade de Toronto, onde está fazendo seu doutorado.
“Contrastando com a relativa inércia das empresas envolvidas e também das diferentes instâncias de governo, este grupo independente rapidamente se mobilizou via rede social e começou uma impressionante ação, que pode ter um papel fundamental para que saibamos algum dia os reais impactos deste acidente, bem como possamos recuperar esta bacia”, completou Martensen, que tem experiência na realização de estudos de impacto ambiental.
Os relatos daqueles que estão no campo são de um cenário de destruição generalizada, que deixará impactos de longo prazo por toda a bacia do Rio Doce. Muitos rios por onde a onda de lama passou foram totalmente soterrados ou severamente assoreados, comprometendo a vida de todo o ecossistema, e os impactos deverão chegar ao ambiente marinho. Os pesquisadores foram rápidos e conseguiram chegar à foz do Rio Doce antes da lama, a tempo de coletar amostras de água, areia e outros sedimentos no seu “estado natural”, que depois servirão de base comparativa para avaliar os estragos e a contaminação gerados pelo desastre.
Fonte: Estadão